segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Novo Encontro em Viseu

(Por Luis Marques)


Inesperadamente, alguns antigos camaradas resolveram encontrar-se novamente em casa do Monteiro em Viseu e a convite deste.






Em primeiro plano, o João Novo, Luis Marques e Jaime Ferreira.
Mais atrás, o Joaquim Raposo e o Adriano Monteiro


Foi mais um momento de alegria e de sã camaradagem e um pretexto para recordar-mos algumas histórias e situações vividas nos anos de 1972, 73 e 74, em Angola.




Há velhos hábitos que ainda hoje perduram. Aqui o Luis Marques e João Novo carregam duas embalagens de vinho recém adquiridas na adega da "Quinta de Cabriz"




O João Novo, o Zé (primo do Ferreira) o Jaime Ferreira e o Quim Raposo, à volta do presunto e do paio, antes do almoço de Sábado, dia 13 de Setembro de 2008 (galinha de cabidela, com arroz de miúdos, uma obra de arte de autoria do Monteiro e do Quim Raposo)


Gostaríamos de contar aqui com outras colaborações, relatando os vossos encontros.


Uma das razões que nos levou a conceber este blogue foi precisamente dar a oportunidade a todos de não só reviverem momentos passados em Angola, como partilhar os melhores momentos do nosso quotidiano, agora que passaram mais de 30 anos sobre o nosso regresso, tendo sempre como tema os dois anos que nos marcaram de forma indelével

Esperamos pelas vossas colaborações. que deverão ser enviadas para o Luis Marques ( lmarques@entreposto.pt )

sábado, 6 de setembro de 2008

Recordações de Angola - 8

11 DE NOVEMBRO DE 1972 - A CHEGADA A ANGOLA


(por Luis Marques)




No dia 10 de Novembro de 1972, já noite adiantada, embarcámos num avião da TAP rumo a Luanda, Angola.
A maior parte de nós tinha acabado de se despedir da família, das namoradas, dos amigos e ainda conservava nos olhos uma lágrima teimosa que nos reduzia à nossa simples condição de jovens assustados com o que nos estava a suceder, não obstante quase todos procurarem demonstrar o contrário. Na mocetada, havia um estranho sentimento, nunca até então vivido. Um nó apertado estreitava-nos as gargantas, fazendo-nos suspirar profundamente.

Algumas horas depois despertávamos em Luanda.


Luanda - Avenida dos Combatentes


A cidade de Luanda fervilhava num ritmo enérgico. Nós militares fornecíamos uma dose de movimento, juventude e alegria.

Quando chegámos, a todos impressionou a tonalidade avermelhada daquela terra; a quente temperatura daquele dia 11 de Novembro, com um sol radioso, embora ligeiramente escondido sob uma finissíma névoa que logo se dissipou, e um cheiro nunca até então experimentado, porém agradável.


Quantas perguntas fizemos na altura a nós próprios? Quantas interrogações interiorizámos sem obter resposta adequada? Olhando os nativos, que questões inocentes e algumas sem sentido nos bailaram do pensamento? Quase sem querer, aproximámo-nos dos oficiais e sargentos do quadro, já com experiências vividas em anteriores comissões, procurando obter uma resposta, ou um sinal esclarecedor.

Depois de nos instalarmos no Campo Militar do Grafanil, enfrentámos pela primeira vez a cidade.




Campo Militar do Grafanil (entrada principal)




Pormenor do Campo Militar do Grafanil




A Capela dedicada a Nossa Senhora do Grafanil (erigida num imbondeiro)





Uma das várias cantinas do Campo Militar do Grafanil


Havia a necessidade de trocar os nossos escudos que trazíamos da Metrópole por angolares, numa terra que se dizia que era nossa. Essa troca era realizada mesmo ali na rua junto a uma cervejaria (Portugália), num largo onde ficavam outros dois cafés, o Versailhes e o Polo Norte. Era nestes locais que nós nos concentrávamos quando íamos a Luanda e de onde partíamos à descoberta da cidade .









Os Angolares em circulação em Angola, durante a nossa comissão


Bem perto ficava a Mutamba, ponto de partida e chegada das camionetas de transportes públicos para os diversos pontos da cidade.

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Várias imagens do Largo da Mutamba


Percebemos a qualidade de vida patenteada pelos brancos. O seu ar feliz nos fins-de-semana enchendo os cafés e restaurantes nas inúmeras esplanadas, em contraste com os lugares mais lúgubres dos bairros de negros suburbanos (Bairro Operário – ou B.O. – Prenda e o Cazenga), onde às vezes nos deslocávamos, mas sempre acompanhados por outros camaradas. Evitávamos lá ir fardados, porque havia notícias de rixas valentes com moradores e soldados (precaução inútil, pois o nosso aspecto não deixava dúvidas a ninguém quanto à nossa condição de militares).



Pudémos apreciar a beleza da baía de Luanda à noite, onde na praia do Mussolo se podia tomar banho, beber umas cervejas, acompanhadas com marisco que era vendido barato, ou mesmo oferecido, coisa que quase ninguém estava habituado.






A beleza da Baía de Luanda à Noite



A praia do Mussulo



Na marginal, extensa e movimentada, destacava-se o edifício mais alto, o Banco Comercial de Angola, do qual se tiravam fotos para mais tarde recordar. Era sem dúvida uma terra de indiscutível beleza.


O Banco Comercial de Angola na Avenida Marginal


Aspecto da Avenida Marginal





Outro recanto da Avenida Marginal em 1972

O nascer do Sol


Vista da Marginal


Era perfeitamente visível que os serviços menos qualificados eram para os negros, engraxadores, vendedores de lotaria, empregados nas cozinhas dos restaurantes, arrumadores nos cinemas, lavadeiras, e actividades semelhantes. O ambiente era de uma certa harmonia social, apesar da constante presença dos militares.




A maior parte de nós questionava o que estava ali a fazer. Mas, na altura, raros consideraram que estavam a desperdiçar os melhores anos das suas vidas (essa consciência só sobreveio mais tarde). Todos nós, perante o fatalismo que representava a nossa presença naquela terra, preferimos tirar o melhor proveito da situação e dos nossos vinte anos.



Avenida dos Combatentes


Ficou em nós a saudade. Sentimento esse que ainda hoje nos faz desejar rever essa terra enfeitiçada, que em todos deixou uma marca indelével.

Algum dia, quem sabe…



BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta