"A emoção é sempre nova, mas as palavras usam-se desde sempre:
daí, a dificuldade de exprimir a emoção."
Victor Hugo
O Zé Paiva em Santa Margarida, antes de embarcar para Angola |
Pretendo deixar algumas palavras a todos os “companheiros “que me receberam de uma forma muito agradável e sorridente naquele feliz encontro, na Martingança.
Começo com umas palavras que já são familiares e que escrevi ao Luís, no dia a seguir ao almoço, porque de facto, são as que realmente senti e ainda sinto: “estou orgulhosa do meu tio, e mais do que nunca está no meu coração. No final do dia, no momento dos discursos, ponderei em agarrar no microfone e dedicar-vos umas palavras. No entanto, não me foi possível, estava demasiada emocionada”. Quando um coração se sente apertado, quando se sente um nó no estômago, quando as palavras não conseguem sair e quando as lágrimas chegam, quando todos estes sentimentos e sensações estão reunidos, tudo demonstra que a emoção está presente. Senti-me realmente emocionada e feliz. Feliz por ter dado “uma volta no passado” e perceber quem foi o meu tio, saber e ter descoberto que ele foi um verdadeiro Herói! Feliz igualmente por ter convivido com vocês. Todos fizeram e fazem parte da História de uma Pátria!
No passado fim-de-semana, contei toda esta história à minha mãe. A sós e com calma, disse-lhe que tinha uma bela história para lhe contar acerca do falecido irmão. Ficou apreensiva e com algum receio… Comecei por lhe contar como tudo começou e como quase do nada, cheguei a descobrir que o irmão foi um Herói, que o irmão salvou uma vida e passados quase 40 anos, o irmão tem amigos que pensam nele de uma forma emocionada e com orgulho.
Não omiti nenhum detalhe e com a ajuda de todos vocês, consegui relatar toda uma história à minha mãe. No final do meu relato, ambas ficámos emocionadas e uns segundos sem falar. Após uns instantes, perguntei-lhe como ela se sentia e o que achava de tudo o que lhe acabara de contar. Apenas me respondeu: “Tive um grande irmão, cheio de coragem, mas infelizmente partiu. Está nos nossos corações e olha por todos nós”. Concordo plenamente com a minha querida mãe.
Agora, pretendo dedicar umas palavras especiais ao meu Amigo, António Facas, que foi um verdadeiro Senhor e está, com muito carinho, no meu coração, pelas suas palavras e pela sua atitude. Pelas trocas de e-mails e pelo facto de ter conversado com o António, verifiquei que para além de um grande músico e excelente baterista, ele é igualmente um grande Homem! Gostei imenso de o conhecer. Tenho a certeza que onde quer que esteja o meu tio, ele está tão orgulhoso do António quanto eu! A amizade ganhou um outro sentido.
Ao Luís Marques, devo-lhe todo este percurso e chegada à meta. A sua ajuda foi muito preciosa. Obrigado Luís, pelo seu acompanhamento e amizade.
Ao Avelino Oliveira, agradeço o seu sorriso e relato emotivo de alguns factos do acidente. As emoções estiveram à flor da pele.
Ao António Moita, agradeço a iniciativa de, sem hesitações, ter dedicado o primeiro brinde ao Zé Paiva.
Ao Manuel Brazão, “o pai da noiva”, agradeço a sua simpatia e recolha de mais uns euros para, em conjunto, todos me terem oferecido o almoço.
Ao Fernando Moreira, agradeço a partilha das suas histórias e conhecimentos acerca dos “heróis da sua infância”. Ambos viemos “depois”, mas já nos sentimos como “da família”.
A TODOS, agradeço os vossos sorrisos, recepção, ajuda, esclarecimentos, bela partilha de emoções e almoço! :-)
Num próximo encontro, prometo dedicar-vos umas palavras a todos.
Merecem ser destacados e referidos como Heróis e Homens desta Nação.
Beijinho para todos! :-)
6 comentários:
Tudo o que queria dizer relativamente a este trabalho e à participação da Cristina Nobre no convívio anual da 3ª Companhia e a sua chegada à grande família do 4611/72, já lho disse pessoalmente; por isso ela sabe muito bem qual o meu pensamento sobre estes temas.
No entanto, não quero deixar de aqui escrever algumas linhas para destacar duas ou três coisas que ajuízo de muito importantes.
Começo por destacar o denodo, a perseverança e a coragem da Cristina em demanda do passado do seu tio, Zé Paiva, quase 4 décadas após a sua morte. Não imagino quantas horas de pacientes buscas foram passadas pela Cristina até nos ter encontrado, mas certamente foram imensas. Não nos podemos esquecer que a Cristina nunca conheceu o seu tio, tendo nascido vários anos decorridos sobre a sua morte. Dele apenas possuia uma foto dos seus tempos de militar (penso que tirada em Santa Margarida, antes do embarque para Angola e que se encontra colocada em lugar de destaque, em casa de sua mãe) e mais duas ou três fotos avulsas. Dele apenas ouvira até então, narrações da própria família (mãe e avós) sobre o carácter do seu tio e a enorme saudade deixada pela sua definitiva ausência.
Mas esses pequenos fragmentos foram o bastante para se lançar sozinha numa busca quase no vazio, na qual certamente apenas ela própria acreditava. Felizmente, a sua decisão teve o merecido sucesso.
A Cristina chegou até nós e foi recebida de braços abertos, como se já fizesse parte do 4611/72 há muito tempo. Tornou-se primus inter pares (primeira entre iguais) no nosso peito, em especial junto da gente da 3ª Companhia.
E na sua “volta ao passado” como lhe chama neste seu trabalho acabou por descobrir novos significados para a sua vida.
Desde logo ficou a conhecer o que verdadeiramente se passou no acidente de 19 de Janeiro de 1973. A descrição dos factos feita pelo António Facas e pelo Avelino Oliveira foi bastante esclarecedora (para além de pequenos fragmentos de detalhes que que foi colhendo aos poucos junto de outros). Reunindo todo esses relatos ela ficou a saber com que coragem e bravura o seu tio procurou (e conseguiu!) salvar a vida do soldado condutor César Dias, antes de ter ocorrido o trágico desfecho do acidente.
Não é herói apenas aquele que derrota ou fere o inimigo no campo de batalha; é herói também aquele que, com total desapego à vida, procura salvar um camarada, um irmão de armas, um semelhante.
Devemos amar os nossos heróis, mas para isso precisamos de os conhecer – de compreender a sua humanidade, frágil e forte, resistente e audaciosa, – o que nos permite criar laços de real afeição.
Aos corpos dá-se sepultura, embora os heróis se libertem da lei da morte e vivam na nossa memória colectiva.
Depois, como a Cristina acertadamente completa, a palavra amizade ganhou para ela um novo significado, ao referir-se ao António Facas.
São acontecimentos como este protagonizado pela Cristina (temos muitos outros exemplos espalhados pelo Fórum 4611) que poderão ajudar as gerações que não viveram directa ou indirectamente a Guerra Colonial a compreender verdadeiramente o que foram esses 13 anos da nossa história, contada pelos próprios protagonistas e não por qualquer escritor ficcionista, por melhor que ele seja.
No convívio de 26 de Novembro sentiu-se bem a presença do Zé Paiva. A dele e a dos outros, já falecidos. Nestes convívios os mortos nunca faltam. Estão sempre presentes…São os primeiros a chegar e os últimos a ausentar-se…
Depois de ler quer a participação no nosso fórum, da Cristina Nobre, ao qual o Luis acrescenta todos os sentimentos que nos vão na alma, de uma forma tão simples quanto cheia de vivência humana e de camaradagem, que mais acrescentar, senão reafirmar que a Cristina sempre foi um de nós. A Cristina afinal andava era "perdida" do nosso convivio, mas felizmente chegou também ao momento único, que só os que por lá passaram são capazes de sentir, de dizer presente à chamada da ordem.
O Zé Paiva está mais do que feliz por ter tal sobrinha!
Imagino que agora a Família Paiva está mais rica e reencontrou alguma da tranquilidade que a falta de noticias verdadeiras e vividas lhe faltava.
Que este Natal seja ainda mais feliz !
Caros "camaradas",
Sem a vossa ajuda e apoio, não teria conseguido chegar à meta.
Percorri este caminho com vocês.
Um grande obrigado pelas vossas palavras, que me emocionam.
Beijinho grande,
Cristina
Olá, Só queria deixar aqui referido uma passagem da vida do Paiva que a Cristina referiu e que eu não queria que passasse despercebida aos demais. Segundo a Cristina, o seu tio Paiva foi muito cedo para França e quando chegou a altura de ser incorporado, já com a vida orientada por terras de França regressou a Portugal para ir cumprir o seu dever e acabou mobilizado para o Ultramar, onde um infeliz acidente o separou dos seus familiares e dos seus pares. Ao tomar conhecimento deste facto o meu primeiro pensamento foi: "Bolas!! Esta vida não é mesmo justa, este homem que fácilmente podia ter optado por não regressar a Portugal e continuar a sua vida por terras da Europa, regressa para cumprir a sua obrigação e logo acontece isto?" Dá que pensar... no entanto compreendo a atitude do Paiva. Em consciência regressou para cumprir o que achava certo e partiu como um herói.
Deixo aqui um enorme beijinho ao meu tio...
Faz hoje 39 anos que partiu...
Estás sempre nos nossos corações.
Beijinho da tua família.
Um grande e comovido abraço para a família do Zé Paiva.
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