quinta-feira, 15 de maio de 2008

Os Bosquímanos

(Por Luis Marques)

















OS BOSQUÍMANOS





Todos nós recordamos este povo que connosco conviveu durante um ano, durante a nossa permanência no Cuando-Cubango em 1972 e 1973.

Naquele tempo, muitos nomes lhe ouvimos chamar (bosquímanos, bochimanes, camussequeles, hotentotes e outros). Mas uma coisa é certa: ficou gravada a ferro na nossa memória a coragem desse povo, nascido da pobreza, que pouco mais tinham de seu que as roupas que vestiam.

Muitas histórias ouvimos sobre essa gente, umas verdadeiras, outras produto da imaginação de cada um e da própria lenda.

Com saudade, recordamos aquela gente pequena. Desde logo estranhámos a sua estranha maneira de falar (uma linguagem repleta de pequenos estalidos produzidos pela língua ao aspirar o ar). Sabemos agora que a língua que falam se chama “koisan”.

Este povo refere-se a si próprios como Zhun ! twasi (o sinal de exclamação, significa o “estalo” da língua), que significa “O Povo Real”, ou !Kung San, ou simplesmente !Kung



Certamente que nenhum de nós deixou de os admirar, não só pelo que nos era contado, mas sobretudo pela vivência quase diária com esse povo, pequeno na sua estatura, mas enorme na sua existência e história!

Cabe aqui recordar o povo mais antigo da África Austral!. Povo que no passado era dono e senhor de todo o território que se estende do Zambeze ao Cabo da Boa Esperança e do Atlântico ao Indico.

Os Tswana, seus vizinhos do Kalahari que ali chegaram há 1.200 anos, chamam-lhes "o povo que nada possui". Os Khoi, seus parentes pastores, chamam-lhe intrusos, ou vagabundos.






Este povo, com um passado antigo, não tem praticamente registos históricos escritos. Com uma sublime excepção: as pinturas rupestres de antílopes, elefantes, dançarinos e caçadores, algumas das quais ainda hoje mantêm uma nitidez surpreendente, apesar de fustigadas pelo vento e pela chuva e queimadas pelo sol durante mais de 3.000 anos.


Nas mais recentes, vêem-se barcos no mar e homens a cavalo. Depois, nada mais.





Ao desembarcarem nas praias da África Austral, há mais de 350 anos, os colonos europeus (alemães e holandeses) chamaram-lhes apenas homens do mato, ou do bosque – bosquímanos.

Considerando-os "indomáveis" e uma ameaça para os animais domésticos, os colonos trataram-nos como ralé, matando-os em grande número.





Num estudo de antropologia publicado no século XIX, J.C. Prichard resume assim a vida dos bosquímanos: "Nunca os seres humanos viveram em condições de tanta indigência e miséria". Nas populares feiras de horrores da época vitoriana, pequenos grupos de bosquímanos eram anunciados como "os anões de África". Os primeiros antropólogos classificaram-nos como "fósseis vivos" e não completamente humanos, encarando-os como o elo em falta na evolução da Humanidade. Outro antropólogo considerou a fantástica língua dos bosquímanos, com os seus estalidos, mais próxima dos sons dos animais do que da fala humana.
Hoje cerca de 85.000 bosquímanos vivem à beira da extinção cultural. A maior parte reside nas regiões mais distantes do deserto do Kalahari, no Botswana, na Namíbia, na África do Sul, em Angola e na Zâmbia.










São um dos povos aborígenes mais intensamente estudados do planeta. Este interesse é reforçado pela ideia de que o bosquímano é um dos últimos elos que nos une à antiga existência de caçadores-recolectores, um modo de vida comum a toda a humanidade até há cerca de 10.000 anos, no tempo em que os seres humanos ainda não domesticavam os animais nem semeavam cereais.

Uma época em que dependíamos directamente da natureza para sobreviver. Desde há algum tempo que os bosquímanos deixaram de viver como caçadores-recolectores, em total isolamento.

Alguns antropólogos consideram que a transformação definitiva dos bosquímanos do Kalahari e no Sul de Angola se verificou a partir da década de 50, com a prática generalizada da construção de poços de água, conhecidos localmente como furos.
Uma das vantagens principais dos bosquímanos em relação a outras sociedades humanas era a sua capacidade para sobreviverem sem água de superfície.

Guardando segredo sobre a forma de encontrar água em melancias e tubérculos, e aprendendo a enterrar ovos de avestruz cheios de água na estação das chuvas para recuperá-los durante a estação seca, os bosquímanos mostraram-se capazes de sobreviver onde os outros não conseguiam. Hoje, esse talento perdeu razão de ser: os furos artesianos abriram a terra aos criadores de gado e os bosquímanos foram desapossados.

há cerca de 200 anos, estes povos ainda povoavam grandes extensões da Namíbia e do actual Botswana foram praticamente exterminados, uma vez que não aceitavam trabalhar nas condições que os novos colonos exigiam.







Estes colonos chamaram-lhes hotentotes – que significa "gago" na língua holandesa, provavelmente devido à sua língua peculiar – ou bushmen, ou seja "homens da floresta", termo que foi adaptado para a língua portuguesa como bosquímanos. Ambos os nomes têm, actualmente, uma conotação pejorativa, assim como o termo san usado para um grupo específico de khoisan, mas que na sua língua significa estrangeiro..








Hoje, reduzidos à servidão na terra que foi dos seus antepassados, 85.000 bosquímanos nativos da África Austral, lutam para recuperar um pedaço dessa terra e o seu orgulho.

Para estes GRANDES HOMENS vai a nossa singela homenagem.










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