domingo, 12 de dezembro de 2010

"Operação (Re-) União" - parte dois

(Por Luís Marques – fotos de Fernando Moreira)


O primeiro encontro dos ex-militares do Batalhão de Caçadores 4611/1972, realizado no passado dia 27 de Novembro de 2010, no Pego, Abrantes, foi um acontecimento marcante para aqueles que nele estiveram presentes.
Tudo o que havia para dizer sobre o referido encontro foi já escrito no "post" do Fernando Moreira publicado no dia 3 de Dezembro, bem como nos comentários do José Veiga, José Manuel Francês e Fernando Delca Facas nele inseridos.
Em complemento ao mesmo, publicam-se aqui algumas fotos que o Fernando Moreira nos enviou, as quais ilustram alguns momentos de alegria e boa disposição dos participantes.

 O início da concentração das "tropas"

 O Corga (decano dos militares presentes), Raposo, Monteiro e Novo
 Agostinho, Elias, Luis Marques, Brito Francês e Rocha
 Brazão
 Elementos do "Pelotão de Apoio Directo"
O  começo das apresentações, com o José Veiga "feito" paparazzi
 O Constantino e o Ramalho
 Martins Correia, Francês e Luis Marques
 Beijinha, Corga, Moita, Figueira e Martinho
Joaquim Leal, Facas e Girão
Deodato, Eduardo Veiga e Matão
Figueira, Martinho e Deodato

 

Cabral e Madeira
Vítor Fernandes (em segundo plano o Jaime Ferreira e o Francês)
António Elias
Paulino Gomes e Filipe Silva

 

Pinto (careca) Gonçalves e ??
José Monteiro (Matosas) e Silva (Drácula) - o homem da corneta)

De costas, Meireles e José Monteiro. De lado Avelino Oliveira e Constantino. de frente, Abílio Nogueira, José Pinto e Nogueira (??)

Este duo não precisa de apresentações (Constantino Leite e Agostinho Margaho, os mais divertidos do convívio)

Agora um trio de gente bem disposta. Os mesmos dois mais o Moita

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

“Operação (Re-) União”




(Por Fernando Moreira – com a colaboração de José Veiga, José Manuel Francês e A. Fernando Delca Facas)

Dia 27 de Novembro de 2010, de manhã cedo punha-se em marcha a "Operação (Re-)União"!!!


 As primeiras "tropas" a chegar

Pela primeira vez na História do Batalhão 4611/72 voltavam a reunir-se num mesmo espaço elementos das 4 companhias que o constituíam, 38 anos depois o 4611/72 tal como uma Fénix renascia reunindo as partes que constituíram outrora o seu corpo, formado no RI-16 em Évora e consolidado no Campo Militar de Santa Margarida.
Relembremos um pouco da história recente para que todos estejamos em sintonia;

Conhecidos os anseios de muitos dos militares deste Batalhão em conviverem relembrando momentos mais e menos felizes, situação que já vinha ocorrendo a nível das várias companhias á volta da "messe virtual" que é o Blog do "Fórum 4611", começou a ganhar forma a possibilidade de se organizar o grande almoço de convívio a nível não de companhias mas sim de Batalhão.Neste sentido o almoço de convívio organizado no ano passado em Évora pela CCS foi participado por alguns elementos da 3ª. Companhia e desse (re-)encontro surgiu a feliz ideia de se realizar um almoço de convívio conjunto que se viria a concretizar no passado 27 de Novembro.Convém referir, para aqueles que não acompanharam de perto os contactos e a organização do evento e para esclarecer algumas dúvidas surgidas, que a organização do almoço não foi da 3ª. Companhia nem da CCS mas sim uma organização conjunta, que acabou também por ser integrada por camaradas da 1ª. e 2ª. Companhias o que muito honrou as companhias organizadoras do encontro.Em termos práticos o encontro foi organizado por dois camaradas, um da CCS (Carlos Rocha) e um da 3ª.Companhia (Manuel Brazão) tendo logo a iniciativa sido abraçada pelos camaradas da 1ª. e 2ªs, dos quais salientamos O Malheiro, o Margalho, Ferreira Alves e o José Veiga. Camaradas que no mesmo local se apresentaram com a promessa e o desejo de que para o ano muitos mais se juntem a eles, acompanhados das suas famílias, uma vez que a família do 4611/72 cresceu ao longo dos anos.
 Luís Marques, Armando Malheiro e Fernando Moreira 
Dos primeiros contactos no ponto de encontro, ainda tímidos, do género; "Eu sou fulano da CCS e tu quem és?" ao; "Então tu é que és o fulano do Blog?" partiu-se para a Cerimónia religiosa efectuada na Igreja do Pego.
De regresso ao local do reencontro tão rapidamente os contactos se alastraram, que pouco tempo depois já se contavam piadas e relatava-se episódios comuns ocorridos entre elementos da várias companhias.Deste espírito destacamos aqui os depoimentos de alguns camaradas que escusamos de referir qual a companhia posto que o sentido daqui para a frente é falarmos do Batalhão 4611/72;
Gente da 2ª Companhia, com o Margalho a comandar

-  "O grande amor que tenho pelo NOSSO Batalhão leva-me a que fique de tal maneira "agarrado" que vai com certeza, ser um "vício" que vou levar comigo para o infinito, bom... seja esse o mal, irei FELIZ. Este, é em linhas gerais, o sentimento que nutro, por tudo isto, que nos liga a todos, foi digamos... um casamento, sem direito a divórcio.
Quanto ao encontro, propriamente dito, começo por dizer que foi com agradável surpresa, o rever de camaradas... em princípio, começou por haver um acanhamento do género... quem é? Quem?.. bom... foi sol de pouca dura, em poucos minutos, já toda a gente se misturava a conversar, era uma autêntica "açorda" se me é permitida a expressão. O sentimento de alegria, esteve estampado no rosto de todos até ao fim. Em termos de programa, "após apresentações" foi o colocar joelhos debaixo da mesa, e com alguma fome já implantada, demos início ao repasto, que diga-se, estava cinco estrelas.
Durante o dia, em que a confraternização durou, as expectativas, estiveram sempre em alta, o que é salutar.
Foi com agrado, e isto só prova a grande manifestação de sucesso que foi, que assisti ao combinar do próximo encontro."
(José Veiga)
Outro aspecto do local de "acantonamento" da 2ª Companhia, com o José Veiga e o Malheiro ao fundo 
-  "Em 1972, partimos jovens, arrancados às nossas Famílias, deixando Pais Esposas, namoradas e amigos a sofrer connosco, para uma Angola, onde na prática poucos sabíamos o que iríamos encontrar.
Éramos um "Batalhão"!! Afinal apenas uma organização militar destinada a servir numa guerra que não desejávamos.
Ainda em Santa Margarida, alguns laços de amizade, foram nascendo. As condições que vivemos em Angola, serviram para reforçar muitas delas.
Depois do regresso de quase todos nós, lamentando e recordando os que de uma ou outra forma não voltaram connosco, foi o retorno aos ambientes que havíamos deixado dois anos atrás.
Ficou, todavia, nos nossos corações, um sentimento novo! Fomos descobrindo que agora também pertencíamos a uma nova Família! Uma Família que escolhíamos de livre vontade.
Nasceu então o desejo do reencontro.
Cada Companhia, por si, foi encontrando datas e locais para que os seus elementos pudessem estar juntos pelo menos um dia por ano e seguramente que todos esses reencontros foram manifestações vibrantes de Amizade.
Foram passando os anos e crescendo o sentir da nossa necessidade de estar juntos.
Em 28 de Abril de 2008, nasceu então um espaço na net, criado pelo Luís Marques, o Forum4611.blogspot.com, inicialmente virado para a troca de mensagens e fotos dos encontros de um grupo de ex-militares, mas que logo na primeira mensagem se mostrava vocacionado para o encontro em seu redor de TODOS os ex-militares do BAT.CAÇ. 4611/72!!
Foi crescendo este sonho, hoje uma doce realidade com visitas superiores a 40 mil, apesar da contagem se ter iniciado já quase um ano passado.
Através deste blogue, a Família 4611, foi-se reencontrando! E crescendo… Hoje, resultado destes reencontros, passados 38 anos das nossas Vidas, é possível estar aqui, convosco.
É possível dizer que tem valido a pena "lutar" pelo desejo de a todos ver reunidos. A meta pretendida está quase totalmente atingida.
Seguramente, que no próximo Convívio, agora já não das companhias, mas sim do Batalhão 4611, seremos ainda mais.
Cada um de nós deve passar a palavra aos que não puderam estar cá hoje, cada um de nós deve fazer passar a mensagem por todos os meios que conheça e possa.
Gostaria que no próximo ano, a 1ª e 2ª Companhia estivessem já em peso , como hoje se verifica com as presenças da 3ª e CCS.
Lembro agora e homenageio todos os que estão doentes ou já partiram do nosso convívio.
Não posso, contudo, terminar, sem deixar bem expresso aqui e agora, como é uso dizer-se, um MUITO OBRIGADO.
Um muito obrigado aos camaradas que de uma forma voluntariosa, mas bem decidida, decidiram carregar com o trabalho e dedicação desta organização.
E podemos afirmar pelas opiniões recolhidas entre os ex-militares e as suas famílias que estavam todos satisfeitos tendo-se proporcionado novos reencontros entre camaradas de companhias diferentes mas que cruzaram os mesmos espaços em terras africanas… ombro a ombro.
No que me concerne, recusarei perder ou deixar de sentir, a alegria que no passado sábado , pude viver com os Camaradas que há tanto tempo não via , e colocar um rosto em tantos outros, "velhos" conhecidos deste fórum.
Bem hajam todos, e que Deus nos garanta a saúde necessária para continuarmos, juntos, a percorrer este caminho.
Um obrigado muito especial, com forte abraço, ao Luis Marques (criador e mentor do Blogue que a todos une), ao Brazão e ao Rocha pelo empenho na concretização deste encontro, e a todos os outros que, na 1ª, na 2ª , na 3ª e na CCS souberam meter pés a caminho para que no sábado passado pudéssemos estar juntos.
Bem Hajam!
(José Manuel Francês)

 

 Luís Marques e o José Manuel Francês

- "O que mais importa é reencontrar-nos de novo por cada ano que passa,  não só para comemorar mais um ano desde que voltámos de terras de Angola onde nos encontramos contra a nossa vontade mas a verdade é a prova que ainda estamos vivos, recordando com saudade SEMPRE aqueles que nos deixaram mas que continuam para sempre ligados a todos nós.
As datas dos (re) encontros são o que menos importa, é conveniente que se trate da logística destes eventos (que dão muito trabalho) com algum tempo para que nada falhe.
A nova (?) questão que se levantou no passado sábado e que o Amigo Francês expôs e muito bem, partilho na totalidade das palavras dele , se poder lá estarei no Pego na data em que seja de agrado de todos e que haja maior disponibilidade, recordo-me que não há muitos anos encontramo-nos no Algarve em pleno verão, impossíveis não há! 
Um Abraço a todos e contem comigo sempre  e enquanto possa."
(A. Fernando Delca Facas )   
O A. Fernando Facas a preparar os primeiros "tiros" 
São estas as vozes do consenso e poderíamos também afirmar pelas opiniões recolhidas entre os ex-militares e as suas famílias que os objectivos traçados estão a cumprir-se.

"Gente" da C.C.S. (Oliveira, Francisco e Sousa)

Reunidas as pessoas que normalmente têm integrado as organizações destes encontros, foi falado que no próximo ano, uma vez que a 1ª. Companhia e a 2ª. Companhia têm já os seus almoços anuais marcados irá levar-se até aos seus elementos a ideia do encontro anual do batalhão de modo a que em 2012 se possa concretizar esse objectivo.Foi pensado também que para efeito de se dilatar o dia de convívio pois os dias em Setembro ainda são grandes em termos de claridade passar-se a data do encontro para esse mês, o que não teria recolhido grande consenso pois, pelo que foi ouvido da generalidade dos participantes, o mês que está associado ao regresso é o de Novembro.
Os organizadores do excelente convívio (Brazão e Carlos Rocha)
Penso que não será por este pormenor que o sonho morrerá, temos mais um ano pela frente para pensar no próximo encontro e repensar nos reajustes necessários para que a ideia se mantenha firme. Quase que poderemos afirmar já hoje que o mesmo será de novo participado, tal como este ano, maioritariamente pelos camaradas da CCS e da 3ª. Companhia, em organização conjunta, mas que iremos ter também connosco em maior número os camaradas da 1ª. e 2ª Companhias.Apenas mais duas palavras no retorno da "Operação Re-União" e apenas para reafirmar a convicção da maioria de que o caminho a percorrer será aquele que corresponde aos anseios da maioria, ou seja um futuro convívio que integre as 4 companhias do 4611/72.Por vezes o caminho não é fácil, outras vezes terá que se parar para reavaliar objectivos e se calhar noutras situações ainda teremos mesmo de dar um passo atrás para que os próximos passos a dar sejam mais seguros e mais objectivos de modo a que ninguém fique para trás ou que desista do objectivo proposto.

Meus amigos os passos futuros têm de ser participados por todos, peço-vos que não deixem morrer esta ideia pois ela tem pernas para andar, basta que haja diálogo e que se trabalhe à volta de ideias que gerem consensos, temos de dar… se quisermos receber!


Batalhão de Caçadores 4611/72 - Ordem de Serviço 1 da nova era – Abrantes 27 de Novembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A PARTIDA

(Por Fernando Moreira)


A Partida


Soneto de Separação

"De repente do riso fez-se o pranto
silencioso e branco como a bruma
e das bocas unidas fez-se a espuma
e das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
que dos olhos desfez a última chama
e da paixão fez-se o pressentimento
e do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
fez-se de triste o que se fez de amante
e de sozinho o que se fez contente
fez-se do amigo próximo o distante
fez-se da vida uma aventura errante
de repente, não mais que de repente..."
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)



Chegada a Luanda – Foto cedida por Girão



24 de Novembro de 1972 – O Embarque

A preparação da nossa viagem para Angola começara, sem que nos apercebêssemos, muito antes daquele dia 24 de Novembro de 1972, em que nos mandaram formar no Campo Militar de Santa Margarida, prontos a entrar nos autocarros de turismo fretados pelo exército, com destino a Lisboa onde nos aguardava o Boeing 707, da FAP, no Aeródromo de Manobra de Figo Maduro, no qual embarcaríamos rumo ao Ultramar.

O processo que nos levou ao Ultramar, para defesa das fronteiras longínquas do Império, iniciou-se após sermos dados como prontos, caso dos atiradores, ou depois do final da instrução da especialidade, para os especialistas, altura em que habitualmente se recebia a ordem de mobilização.

Após a ordem de mobilização lá recebemos a Guia de Marcha para apresentação na Unidade Mobilizadora onde nos juntámos, vindos dos vários centros de instrução, num Batalhão com um número de código atribuído e que aos poucos ia tomando forma agregando os militares operacionais e os das especialidades até que o quadro orgânico respectivo estivesse preenchido.

O Batalhão de Caçadores 4611/72 foi assim, aos poucos, tomando forma, ao mesmo tempo que a par dos exercícios de instrução de aperfeiçoamento operacional se recebiam as vacinas, os camuflados e outro material que nos acompanharia durante o tempo do chamado cumprimento do dever. Quando por fim se encontrou composto de 3 companhias operacionais e 1 de serviços, o Batalhão 4611/72 estava em termos práticos pronto para seguir viagem.

Com a chegada da ordem de embarque sobraram uns dias para uma ida a casa para a despedida à família, para fazer umas últimas asneiras por conta com os amigos de sempre e pedir a alguma amiga mais próxima, caso não existisse já namorada na costa, para que fosse a nossa madrinha de guerra durante o tempo de permanência no Ultramar.

Finalizado este período de graça e após a despedida da família urgia partir rapidamente para o quartel de modo a que ninguém próximo se apercebesse que afinal o malvado guerreiro sem sentimentos tinha duas lágrimas nos olhos que teimosamente insistiam em rolar pela face.

E a canção começa a martelar na nossa mente, “ Mamãe... Sinto que estás a chorar...”


Entrámos em silêncio nos autocarros e saímos de Santa Margarida no dia 24 ao final da manhã rumo a Lisboa… Jovens, com idades a rondar os 22 anos, fizemos o trajecto num ambiente algo silencioso, nervoso e de apreensão, raras vezes cortado por uma ou outra graçola de algum camarada quiçá mais nervoso que nós e que utilizava esse estratagema para não o demonstrar.

Tomávamos consciência que algo mudaria a partir dali.

O serviço militar deixara de ser “um estágio de actividades físicas e manipulação de armas, em que nos fins-de-semana íamos ver a família, tomava agora um aspecto inevitavelmente mais grave. Íamos para a guerra, era impossível ignorar!” (Sic. Jorge Correia)

À chegada ao Aeródromo de Figo Maduro viríamos a sofrer o ataque definitivo às nossas emoções ao encontrarmos à nossa espera as famílias, também elas em sofrimento pela partida não desejada dos entes queridos, mas fazendo um esforço tremendo para que a boa disposição se sobrepusesse ao aperto de mão nervoso de uma mãe, avó, irmã, esposa ou namorada ou ao rosto crispado de um pai ou avô que, conhecedores do lema de que “um homem não chora”, se apressavam a despachar o momento com uma palmada nas costas do seu rapaz feito guerreiro à pressa procurando desta forma transmitir ânimo numa situação que se podia comparar a uma barragem prestes a rebentar em lágrimas, em gritos de desespero e protesto contra uma guerra que se apresentava já sem muito sentido.

E a canção continuava; “Não chores a minha ausência... que um dia hei-de voltar...”


Uma das primeiras noites em Luanda – Foto cedida por Luis Silva



25 de Novembro de 1972 – Chegada a Luanda

Chegados a Luanda tivemos como primeira sensação o intenso cheiro a terra vermelha nada desagradável ao olfacto.

Fomos directos ao Grafanil, onde ficámos estacionados e onde também tivemos a segunda grande sensação das terras angolanas… os mosquitos!!!

Após cinco dias em Luanda seguimos transportados nas Berliet´s para Serpa Pinto a capital da província do Cuando Cubango, província angolana no leste, quatro vezes maior que Portugal, onde ficámos aquartelados.
Começava a nossa saga africana!
E a canção repetia; Não chores... E pensa agora... que o tempo passa depressa....”
E continuava; ...”Mamãe não chores.... Que eu volto...”




A 3ª. Companhia do B.Caç. 4611/72 partiu a 24 de Novembro de 1972 e regressou a 28 de Novembro de 1974 após 2 anos e 4 dias de ausência.




Foto de despedida de Angola – Cabinda, Roça Lucola


Um agradecimento ao Filipe Silva, ao António Moita e ao Jorge Correia pela ajuda prestada neste trabalho.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

11 DE NOVEMBRO DE 1972

(por Luis Marques)

"Só há um meio de viver no passado e no futuro - é guardar recordações e sonhos"
Coelho Neto

"Remember when you were young, you shone like the sun."

(recorda-te quando eras novo, tu brilhavas como o sol.)
David Gilmour / Roger Waters / Richard Wright


11 de Novembro de 1972, 11 de Novembro de 2010.

Vista de Luanda em Novemvro de 1972

 

38 anos já decorreram entre estas duas datas...Na manhã de 11 de Novembro de 1972, os militares que constituíam a C.C.S. da Batalhão de Caçadores 4611/1972, chegaram a Luanda, depois de cerca de 11 horas de voo desde Lisboa, Aeroporto de Figo Maduro.
Grupo de soldados da C.C.S., no Campo Militar de Santa Margarida, no dia do embarque para Luanda

 

Foi o primeiro contingente do Batalhão a chegar a Angola, as restantes chegaram a 19 de Novembro (1ª Companhia), 21 de Novembro (2ª Companhia) e, finalmente, em 25 de Novembro (a 3ª Companhia). Autênticos rapazes, feitos homens à pressa , para serem enviados em sucessivos embarques para uma Guerra que nunca lhes foi suficientemente explicada e que mais tarde se verificou ter sido inútil, de nada tendo servido, os milhares de mortos e de feridos e quase “desbaratamento” de uma geração, com sequelas que ainda hoje perduram em muitos de nós.


Manhã muito quente em Luanda naquele dia de 1972. Um Sol radioso a despertar e a aquecer-nos, (depois de termos deixado Lisboa, com algum frio e uma chuvinha miudinha e persistente) uma terra de tons avermelhados diferente de tudo o que já tínhamos visto e um cheiro diferente, mas inebriante a receber-nos...Depois, toca a rumar até ao Grafanil, local que desde há muito ouvíamos falar.

O Aquartelamento do Grafanil

A primeira noite foi de um calor quase insuportável e com elevada humidade. Toda a gente a procurar “desenfiar-se” em direcção à cidade de Luanda, desejosos de conhecer a cidade de que tanto já tinham ouvido relatos...Pela minha parte, nada! Calhou-me, por escala, sargento de dia.
Mas, “marimbando-me” para a nomeação, também me “desenfiei” em direcção à 31ª Companhia de Comandos, aquartelada igualmente no Grafanil, onde tinha o meu irmão Carlos Alberto (os “bandidos” dos furriéis da C.C.S., não quiseram fazer uma troca de escala, seus velhacos!). É claro que por causa desse reencontro de irmãos, não chegou a existir sargento de dia, na C.C.S. É que o calor abrasador e o primeiro e delicioso contacto com a Nocal bem gelada, não permitiram que a nomeação se consumasse.

E aqui trago à memória o nosso “santo protector”, o capitão Manuel Ferreira Júnior, comandante da C.C.S. Ao dar pela falta do tal sargento de dia, depois de me ter procurado e mandado procurar “por todo o lado”, ao ver-me chegar altas horas, num atavio pouco recomendável, acompanhado de meu irmão, em igual estado, perdoou-me a falta e a “porrada” mais que certa, ao saber dos seus motivos... Meu (nosso) querido amigo: lá onde se encontra (eu talvez possa adivinhar...), mais uma vez muito obrigado, por desculpar esta falta, que não já era a primeira, nem foi a última.
Estes 38 anos já decorridos, vão ter, finalmente, uma comemoração conjunta das quatro Companhias do Batalhão, no próximo dia 27 deste mês de Novembro, em Abrantes. Peço uma vez mais uma presença massiva de todos vós. Eu não faltarei!

PS: a missa não será celebrada pelo nosso capelão, o padre Geraldes, que infelizmente se encontra doente e não se pode deslocar a Abrantes. As suas rápidas melhoras é o que todos desejamos.




quinta-feira, 28 de outubro de 2010

1º ENCONTRO ANUAL DO BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

(Por Luís Marques)

1º ENCONTRO ANUAL DO BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72




No dia 27 de Novembro de 2010 irá realizar-se o primeiro encontro anual dos antigos militares do Batalhão de Caçadores 4611/1972.
Decorridos quase 36 anos após o regresso do Batalhão das terras angolanas (que todos percorremos de sul a norte, das terras do fim do mundo até Cabinda), vai finalmente ocorrer um encontro que se poderá já chamar o primeiro encontro de todas as quatro Companhias do Batalhão.
Ao longo dos anos as quatro Companhias (CCS, 1ª, 2ª e 3ª) têm-se reunido isoladamente recordando e comemorando o tempo passado em Angola e sobretudo a amizade e a camaradagem que permaneceu e se fortaleceu até aos dias de hoje, fazendo com que nós, pelo menos uma vez por ano, nos reencontremos num local, num espaço qualquer de Portugal, de norte a sul, não interessando a distância que cada um tenha de percorrer para se encontrar com aqueles que compartilharam momentos difíceis e também momentos alegres e que todos, nessas ocasiões relembram com saudade.
Esporadicamente, num qualquer encontro de uma das Companhias, compareceram alguns antigos camaradas das restantes Companhias, trazidos quase sempre por mão amiga. Mas nunca como se prevê que este ano suceda.
Para já, o encontro de 27 de Novembro terá uma participação, que se espera massiva da CCS e da 3ª Companhia. A justificação está no facto de termos pouco conhecimento (neste momento) das moradas e outros elementos dos ex-camaradas das duas restantes Companhias (a 1ª e a 2ª). Acresce que estas, muito recentemente – Junho de 2010 – tiveram os seus encontros anuais. O que poderá desmotivar alguns para novo convívio, este mais alargado, passados apenas 5 meses.
Mas sabemos que os organizadores deste convívio global (queremos chamar-lhe assim), o Carlos Rocha e o Vítor Dias, por parte da CCS e o Manuel Brazão por parte da 3ª Companhia, sobretudo este, estão a desenvolver esforços no sentido de contactar o maior número de companheiros das duas restantes Companhias, a fim de fazer aderir à iniciativa o maior número de elementos. E parece ter, nesta altura, conseguido já algum sucesso nessa tarefa, pois já incumbiu o António Ferreira Alves (da 1ª Companhia) e o Armando Malheiro (da 2ª Companhia) de contactar todos os seus companheiros de Companhia a fim de obter o maior número de presenças dessa gente de que todos temos saudade.
No futuro, que será já em 2011, temos a certeza, já haverá uma presença em massa de todos os militares do Batalhão de Caçadores 4611/1972, o que se deseja.
Cumprir-se-á, assim, um dos desígnios que levou à criação do Fórum 4611!


Localização do local do Convívio
(clica para aumentar)


O encontro terá lugar bem no centro do país, na freguesia do Pego, bem perto de Abrantes, no Hotel Abrantur, que inclusive tem condições (e preços bem especiais) para quem lá queira pernoitar de 26 para 27 de Novembro e para quem não se queira “meter à estrada” no final do repasto.
(clica para aumentar)
O local de encontro será no parque de estacionamento do Hotel Abrantur, pelas 10:00.
O Hotel Abrantur, em Pêgo, Abrantes
Pelas 11:00 horas será celebrada uma missa em memória dos companheiros já falecidos, na Igreja do Pego. A missa será celebrada pelo padre Geraldes, o capelão do nosso Batalhão.

Igreja do Pego

 
Depois teremos o repasto que durará pelo resto do dia, até bem tarde.
Então encontramo-nos todos em Abrantes, certo? Não se esqueçam de trazer os vossos familiares.

Clica para aumentar 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

GILBERTO ROSETA DOS REIS (30/03/1948 - 27/08/2010)

(Por Luís Marques)

"A vida não passa de uma oportunidade de encontro;
só depois da morte se dá a junção;
os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace "

Victor Hugo




Hoje, logo pela manhã, ao passar os olhos pelo "Diário de Notícias" (a vida a agitada do dia a dia não nos dá tempo para mais) tive um sobressalto ao reconhecer de imediato a fotografia do Gilberto Roseta dos Reis, o ex Alferes Miliciano do S.A.M. da C.C.S. do Batalhão de Caçadores 4611/1972.
Tratava-se do agradecimento da sua família “a todas as pessoas que de algum modo manifestaram de forma carinhosa a sua amizade (no)...momento de dor”
A mensagem foi publicada um mês após o falecimento do nosso querido Gilberto Roseta dos Reis. O Reis faleceu no dia 27 de Agosto deste ano...
Não sei se no seu funeral esteve presente alguém a representar os seus antigos camaradas e amigos da Companhia ou do Batalhão . A notícia para mim foi um completa e triste perturbação.
Sempre tive o Reis colocado num elevado patamar de estima e amizade. Foi dos oficiais da C.C.S. (e digo isto com toda a sinceridade, sabendo que muitos me acompanharão nessa afirmação) que menos ligou à sua patente de oficial - patente que muitas vezes não era atribuída por mérito ou qualidade de comando, mas porque as célebres NEP’s assim o estabelecia, não era o caso dele notem bem - nos seus contactos e vivência com os praças, cabos e sargentos da Companhia).
Era um militar simples e educado no trato como os outros, fossem eles quem fossem.
Recordo bem as longas conversas que mantivemos, sempre que nos encontrávamos algures no Bairro de Campo de Ourique, onde ambos morávamos, nos primeiros anos após o regresso de Angola.
O Reis era presença assídua nos convívios anuais, até que nos últimos deixou de aparecer, talvez já debilitado pela doença que o vitimou.
Sigmund Freud disse “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte”... Mas é difícil aceitar a morte daqueles que nos marcaram numa fase importante da nossa vida e por quem nutríamos muita amizade

Ao centro o Reis no convívio de 2000
Gilberto Roseta dos Reis: descansa em Paz. Os teus antigos camaradas e amigos não te esquecerão



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

MANIFESTO ANTI LOBO (ou quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele)

Por Luís Marques

Os cobardes morrem várias vezes antes da sua morte;
O homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”

William Shakespeare , "Júlio César"

A ESCRITA MENTIROSA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES
O sr. Lobo


Este "post" é a propósito da verborreia debitada por António Lobo Antunes no livro de João Céu e Silva “Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes”, editado no ano passado.
A polémica voltou agora à ordem do dia, a propósito da sua falta de comparência (ia a meio caminho, mas voltou para trás...) a um encontro literário no passado sábado, dia 21 de Agosto de 2010, em Tomar.
Para uns, a sua “ausência” ficou a dever-se ao receio de confronto (físico ou verbal) com ex-combatentes da guerra do ultramar, que teriam “ameaçado dar-lhe uns sopapos”; para o próprio Lobo Antunes, o seu regresso a Lisboa deveu-se unicamente a uma recusa em ser “objecto” de aproveitamento político por parte da Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo (desculpa que acho “esfarrapada” e sem qualquer nexo).
De qualquer forma, o que está em causa são as ideias, as frases, os palavrões, os impropérios, as aldrabices que o Sr. Lobo se lembrou de vomitar naquele livro.
A título de exemplo, vejamos o que ele se lembrou de dizer na página 391 daquele livro:



«Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».


Vós, que fostes combatentes na guerra do ultramar, que achais destas “preciosidades”?
Qual foi o Batalhão presente na guerra do ultramar que teve 25% de baixas? E o que dizer quanto à “guerra dos pontos”? Será que o infeliz Lobo Antunes, no intervalo das suas divagações literárias, se entretêm a jogar jogos de computador e o seu avançado estado de senilidade já não o deixa discernir entre o que é ficção e a o que foi a realidade por ele vivida em Angola nos anos de 1971 a 1973? Esta "guerra dos pontos" não será o reflexo de horas intermináveis a jogar Farm Ville no Facebook?
Na verdade, a “diarreia verbal” do Sr. Lobo, se não fosse trágica (e é...) seria cómica (não, não dá vontade de rir!)
E é grave, vinda de um ex-combatente, tal como nós. Envergonha-nos e envergonha quem profere semelhante verborreia (ou será que ele já não tem qualquer pingo de vergonha?).
Não podemos deixar que as mentiras do Sr. Lobo sejam tomadas a sério e passem a ser a imagem de todos aqueles, que como nós, combateram na então África Portuguesa.
Todos nós sabemos que naquela guerra se cometeram de parte a parte alguns excessos. Na realidade, qualquer de nós se tivesse de matar para não ser morto não hesitaria. O sentido da conservação da vida é um sentimento intrínseco do ser humano. É uma lei divina que garante a continuação da espécie  - e não só nos humanos. À parte disso, todos nós temos conhecimento de exageros cometidos e não só da parte dos soldados portugueses. Ninguém ficou isento naquela guerra. Mas daí a resumi-la como uma simples “guerra de pontos” existe uma grande diferença. É ficção, mas má ficção.
Há dias, as minhas filhas, que sempre se interessaram pelo meu passado de antigo combatente, perguntaram-me se aquilo “dos pontos”era verdade e se nós, para nos livrarmos de “apertos” e mudar para uma “zona mais confortável”, não olhávamos a meios e cometíamos as atrocidades relatadas pelo Sr. Lobo. Expliquei-lhes que aquelas afirmações eram um desvario total e que nada tinham a ver com a realidade. Mas o facto de elas me terem questionado, sabendo bem o meu passado, levou-me a pensar que muitas outras pessoas fariam para si próprias as mesmas perguntas e estabeleceriam intrinsecamente as mesmas dúvidas.
Daí ter decidido publicar este trabalho, uma vez que não posso calar a revolta que os desvarios o Sr. Lobo me trouxe.
Eu fui em um leitor relativamente interessado do Sr. Lobo, tendo lido algumas das suas obras, sobretudo as primeiras (Memória de Elefante, Os Cus de Judas, Fado Alexandrino, Auto dos Danados, As Naus, entre outras). E mais recentemente “D’este viver aqui neste papel descripto”, livro dado à estampa por iniciativa das suas duas filhas e que reúne cerca de 300 cartas que o Sr. Lobo escreveu a sua mulher no tempo que esteve em Angola.
Lembro-me bem que nestas cartas escritas a sua mulher, Maria José (a maior parte elas nos célebres aerogramas – os “bate estradas” como nós lhe chamávamos), ele conta, de uma forma directa, as suas experiencias de guerra, tal como nós o fizémos aos nossos pais, mulheres e namoradas, só que de uma forma mais elaborada, pelo menos se comparada com a grande maioria de antigos combatentes. Mas não há nelas grandes desvarios espirituais. Talvez, apenas, alguns (pequenos) exageros, mas nada de suficientemente grave.

Agora, o Sr. Lobo, ultrapassou tudo o que seria lógico e admissível.
De algum tempo a esta parte, fui-me afastando, aos poucos, da escrita produzida pelo Sr. Lobo.
Enfim, como diria Almada Negreiros: MORRA O LOBO MORRA! PIM!

Depois desta, já longa, exposição e voltando ao seu início, quero deixar bem claro que (sendo verdade que alguns antigos combatentes da guerra do ultramar queriam mesmo confrontar o Sr. Lobo pela ofensa perpetrada à memória de todos aqueles que verteram o seu sangue e deixaram o melhor das sua juventude nas antigas províncias do ultramar português e não querendo de forma alguma apoiar esse eventual confronto), ELES (os antigos militares) PODIAM NÃO SABER (mas sabiam) PORQUE LHE BATIAM, MAS ELE SABIA BEM PORQUE APANHAVA...


Luís Marques

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

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conduta brava e em tudo distinta