sábado, 24 de janeiro de 2009

FAZENDA TENTATIVA (1974 / 2009 )

(por Luís Marques)

«... É que os lugares acabam, ou ainda antes
de serem destruídos, as pessoas somem
e não mais voltam onde parecia
que elas ou outras voltariam sempre
por toda a eternidade. Mas não voltam,
desviadas por razões ou por razão nenhuma»

Jorge de Sena



Quase 35 anos passaram desde a data em o Batalhão de Caçadores 4611/72 deixou a chefia do subsector do Caxito e a C.C.S. rumou a Cabinda, deixando a Fazenda Tentativa e a região de Luanda.
Todos nós guardamos na lembrança aquilo que era Fazenda Tentativa na altura em que lá estávamos e aquilo que ela representava para nós (sobretudo devido ao isolamento em havíamos vivido nos 13 meses anteriores no Cuando Cubango).
A Fazenda Tentativa surpreendia pela sua grandiosidade. A sua enormidade, as vivendas, as escolas, a igreja, o hospital, a farmácia, o seu cinema ao ar livre, o campo de futebol, a própria fábrica e a vasta alameda que possuía, davam-lhe um aspecto de modernidade.
Também a cidade do Caxito, e a Barragem das Mabubas, constituíam para nós alguma coisa de diferente de tudo aquilo que até então estávamos habituados e um regresso apetecido à “civilização”.
As constantes visitas a Luanda e tudo o que isso representava (os encontros, as farras de fim-de semana, os bares, etc,), quase que nos faziam “esquecer” a nossa condição de jovens de vinte e poucos anos, bem cedo retirados à família e aos amigos e expostos às agruras e contingências de uma vida militar não voluntária nem desejada.
Infelizmente, nos dias de hoje, os locais que então percorremos e habitámos nesta região da Fazenda Tentativa, cidade de Caxito e Barragem das Mabubas (e até a própria cidade de Ambriz), pouco ou nada têm a ver com as imagens que certamente todos nós temos gravadas na memória.
A guerra civil que impiedosamente se abateu sobre Angola, logo a seguir à sua independência, foi destruidora e não poupou as populações, nem a quase totalidade das estruturas que Angola possuía.
Um exemplo dessa acção destruidora da guerra civil, está bem espelhada nas imagens actuais da Fazenda Tentativa, das cidades de Caxito e Ambriz e da Barragem das Mabubas.
Da Fazenda Tentativa já nada resta, estando todo aquele complexo fabril e habitacional totalmente destruído.
A Barragem das Mabubas (que a 1ª companhia defendeu das incursões dos guerrilheiros do MPLA, com a finalidade de salvaguardar o abastecimento de água a Luanda) está totalmente inoperacional e já não tem função que tinha em 1974.
As cidades de Caxito e de Ambriz, actualmente, são imagens reveladoras de uma destruição atroz em tudo semelhantes a tantas outras cidades e aldeias angolanas, entristecendo quem as vê agora e recorda as imagens que guardou na memória.

As fotografias que se seguem ilustram bem esta triste realidade.
Vejam-nas e meditem.


Fazenda Tentativa em 1974

O Vasconcelos e Francês na Fazenda Tentativa em 1974




Fazenda Tentativa actualmente .

A Fazenda Tentativa vista do céu






Caxito em 1974

Caxito (Avenida Principal)




Caxito (Avenida Principal)



Caxito (Cruzamento para Ambriz)





Caxito (Mercado)



Caxito (Cruzamento para a Barragem das Mabubas e para o Úcua)



Caxito (Avenida Principal)



Estrada do Caxito a Ambriz em 1974

Caxito actualmente



Estrada do Caxito a Ambriz actualmente


Tanque de Guerra abandonado na Estrada Caxito - Ambriz







Floresta nos arredores do Caxito


Barragem das Mabubas em 1974








Barragem das Mabubas actualmente



Ambriz em 1974

O quartel da Primeira Companhia no Ambriz

Avenida principal



Outro aspecto da Avenida Principal

Outra vista da cidade de Ambriz



Ambriz actualmente




Tanque de Guerra abandonado na Estrada Ambriz - Caxito




sábado, 17 de janeiro de 2009

Recordações de Angola - 11

(Por Luís Marques)



Voltamos aqui a recordar a nossa passagem por terras de Angola nos anos de 1972 a 1974,
As fotografias que aqui exibimos, são todas representativas do primeiro ano da comissão do Batalhão de Caçadores 4611/72, passado no Kuando Kubango (M´pupa).
Todas elas foram cedidas ao Fórum 4611 pelo Fernando Santos.
Ceder ao nosso Blogue as fotos que possuem é uma forma de todos colaborarem na sua edição.





O Fernando Santos com a nossa mascote "Piçudo", o macaco mais fotografado do Kuando Kubango


O Fernando Santos junto da residência do enigmático italiano Portas (para nós, este italiano era sem qualquer dúvida um fascista, correlegionário de Mussolini, que Salazar escondeu nas "Terras do Fim do Mundo". Os colonos brancos do Calai também nisso acreditavam)

Este leão apareceu morto logo nos primeiros dias que passámos em M´pupa, recordam-se disso?

Uma cena de caça, das muitas que vivemos em M´pupa

O Fernando Santos e uma das nossas Berliet´s, nas quais percorremos milhares de quilómetros

Uma paragem para o "mata bicho",

A mesma cena, outros personagens

Uma pausa para a fotografia, numa qualquer coluna de patrulhamento

sábado, 10 de janeiro de 2009

M´pupa (Mupupa) 2009

(Por Luís Marques)



O Quartel de M´pupa em 1973


Esta é mais uma notícia sobre M´pupa (parece que o nome, agora, derivou para Mupupa...), respigada das páginas da Internet.
Retrata problemas actuais da povoação que foi sede do Batalhão de Caçadores 4611/72 e da qual todos nós guardamos as melhores recordações.
Lá todos nós aprendemos a amar Angola e a vida. Lá, nas doces águas dos rios Cubango e Kuito, lavámos o rosto e deixámos as lágrimas amargas da saudade.
Ao que consta (e o texto em baixo confirma-o), o chão que pisámos em 1972 e 1973 é rico em diamantes. Quem diria...


As terras de M´pupa, ricas em diamantes, em 1973


O texto, em baixo reproduzido, fala de um tal Makanga Likolo, de 80 anos, como sendo "a autoridade de Mupupa", que parece residir na aldeia desde sempre. Ora, tal significa que já lá vivia quando nós lá estávamos (tinha então quarenta e tal anos). Alguém se recorda dele? Ou talvez estivesse na matas, na guerrilha (quem sabe...).
As fotos publicadas (as do nosso tempo) pertencem ao álbum de recordações do Fernando Santos, que gentilmente as cedeu ao Fórum 4611.





A População de M´pupa em 1973, com o João Cabunga, a "autoridade" de M´pupa em 1973 , então com quarenta e poucos anos (quem será o Makanga Likolo?)



A notícia é esta:

População de Mupupa clama por ajuda urgente


A localidade de Mupupa (Dirico) precisa urgentemente de bens de primeira necessidade, para minimizar os inúmeros problemas sociais que afligem mais de 600 pessoas, que diariamente lutam pela sobrevivência. Mupupa está isolada da sede municipal do Dirico, por falta de uma ponte sobre o rio Kuito, destruída na década de oitenta, durante a guerra. A população necessita essencialmente de sal, óleo vegetal, peixe, arroz, medicamentos, roupas, cobertores, sabão, sementes e instrumentos agrícolas.



Os rápidos de M´pupa, no Rio Kuito


Segundo a autoridade de Mupupa, Makanga Likolo, de 80 anos, a localidade clama por escolas, postos de saúde, água potável e infra-estruturas administrativas. “Queremos um comissário para a nossa comunidade, polícia, escolas, postos de saúde e água para a população, porque o rio Kuito, onde tiramos a água para as nossas actividades domésticas, fica a 35 minutos a pé, um percurso que as pessoas fazem todos os dias, desde os tempos que já lá se foram e assim não está bom”, desabafou.
Cerca de duas horas e 15 minutos é o tempo que o helicóptero precisou para atingirmos a localidade, levando a bordo alimentos e roupas que a direcção provincial do Ministério da Assistência e Reinserção social preparou para acudir à população de Mupupa. Sungo Matumona Pedro, representante do MINARS, prometeu fazer chegar ao novo governador da província todas as preocupações da população de Mupupa, no sentido de se estudarem vias que possibilitem levar bens de uso e consumo para a população da região. Mupupa dispõe de um pequeno aeródromo de terra batida e em perfeitas condições, mas como está a chover é necessária a presença de um especialista, para averiguar se a pista ainda pode receber aeronaves de médio porte, com mercadorias.






M´pupa em 1973


Na região ainda existe muita gente que ainda não conhece a moeda nacional, o Kwanza.
Tida como uma das regiões da Província mais ricas em diamantes, o brilho das pedras preciosas é ofuscado pelo mar de dificuldades que os seus habitantes enfrentam. Segundo Makanga Likolo, nos últimos tempos tem sido frequente o surgimento de pessoas estranhas em Mupupa, a pretexto de pertencerem a instituições que a população mal conhece.




M´pupa vista do céu nos dias de hoje (imagem obtida do Google Earth). Vê-se o espaço que era então ocupado pelo quartel da C.C.S. do Batalhão de Caçadores 4611/72 e um pouco mais acima a pista de aviação. Alguma coisa teria mudado no nosso comportamento se então soubéssemos que o chão que pisávamos era fértil em diamantes?


O Rio Cubango na região do Calai (foto recente)

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta