quarta-feira, 25 de agosto de 2010

MANIFESTO ANTI LOBO (ou quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele)

Por Luís Marques

Os cobardes morrem várias vezes antes da sua morte;
O homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”

William Shakespeare , "Júlio César"

A ESCRITA MENTIROSA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES
O sr. Lobo


Este "post" é a propósito da verborreia debitada por António Lobo Antunes no livro de João Céu e Silva “Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes”, editado no ano passado.
A polémica voltou agora à ordem do dia, a propósito da sua falta de comparência (ia a meio caminho, mas voltou para trás...) a um encontro literário no passado sábado, dia 21 de Agosto de 2010, em Tomar.
Para uns, a sua “ausência” ficou a dever-se ao receio de confronto (físico ou verbal) com ex-combatentes da guerra do ultramar, que teriam “ameaçado dar-lhe uns sopapos”; para o próprio Lobo Antunes, o seu regresso a Lisboa deveu-se unicamente a uma recusa em ser “objecto” de aproveitamento político por parte da Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo (desculpa que acho “esfarrapada” e sem qualquer nexo).
De qualquer forma, o que está em causa são as ideias, as frases, os palavrões, os impropérios, as aldrabices que o Sr. Lobo se lembrou de vomitar naquele livro.
A título de exemplo, vejamos o que ele se lembrou de dizer na página 391 daquele livro:



«Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».


Vós, que fostes combatentes na guerra do ultramar, que achais destas “preciosidades”?
Qual foi o Batalhão presente na guerra do ultramar que teve 25% de baixas? E o que dizer quanto à “guerra dos pontos”? Será que o infeliz Lobo Antunes, no intervalo das suas divagações literárias, se entretêm a jogar jogos de computador e o seu avançado estado de senilidade já não o deixa discernir entre o que é ficção e a o que foi a realidade por ele vivida em Angola nos anos de 1971 a 1973? Esta "guerra dos pontos" não será o reflexo de horas intermináveis a jogar Farm Ville no Facebook?
Na verdade, a “diarreia verbal” do Sr. Lobo, se não fosse trágica (e é...) seria cómica (não, não dá vontade de rir!)
E é grave, vinda de um ex-combatente, tal como nós. Envergonha-nos e envergonha quem profere semelhante verborreia (ou será que ele já não tem qualquer pingo de vergonha?).
Não podemos deixar que as mentiras do Sr. Lobo sejam tomadas a sério e passem a ser a imagem de todos aqueles, que como nós, combateram na então África Portuguesa.
Todos nós sabemos que naquela guerra se cometeram de parte a parte alguns excessos. Na realidade, qualquer de nós se tivesse de matar para não ser morto não hesitaria. O sentido da conservação da vida é um sentimento intrínseco do ser humano. É uma lei divina que garante a continuação da espécie  - e não só nos humanos. À parte disso, todos nós temos conhecimento de exageros cometidos e não só da parte dos soldados portugueses. Ninguém ficou isento naquela guerra. Mas daí a resumi-la como uma simples “guerra de pontos” existe uma grande diferença. É ficção, mas má ficção.
Há dias, as minhas filhas, que sempre se interessaram pelo meu passado de antigo combatente, perguntaram-me se aquilo “dos pontos”era verdade e se nós, para nos livrarmos de “apertos” e mudar para uma “zona mais confortável”, não olhávamos a meios e cometíamos as atrocidades relatadas pelo Sr. Lobo. Expliquei-lhes que aquelas afirmações eram um desvario total e que nada tinham a ver com a realidade. Mas o facto de elas me terem questionado, sabendo bem o meu passado, levou-me a pensar que muitas outras pessoas fariam para si próprias as mesmas perguntas e estabeleceriam intrinsecamente as mesmas dúvidas.
Daí ter decidido publicar este trabalho, uma vez que não posso calar a revolta que os desvarios o Sr. Lobo me trouxe.
Eu fui em um leitor relativamente interessado do Sr. Lobo, tendo lido algumas das suas obras, sobretudo as primeiras (Memória de Elefante, Os Cus de Judas, Fado Alexandrino, Auto dos Danados, As Naus, entre outras). E mais recentemente “D’este viver aqui neste papel descripto”, livro dado à estampa por iniciativa das suas duas filhas e que reúne cerca de 300 cartas que o Sr. Lobo escreveu a sua mulher no tempo que esteve em Angola.
Lembro-me bem que nestas cartas escritas a sua mulher, Maria José (a maior parte elas nos célebres aerogramas – os “bate estradas” como nós lhe chamávamos), ele conta, de uma forma directa, as suas experiencias de guerra, tal como nós o fizémos aos nossos pais, mulheres e namoradas, só que de uma forma mais elaborada, pelo menos se comparada com a grande maioria de antigos combatentes. Mas não há nelas grandes desvarios espirituais. Talvez, apenas, alguns (pequenos) exageros, mas nada de suficientemente grave.

Agora, o Sr. Lobo, ultrapassou tudo o que seria lógico e admissível.
De algum tempo a esta parte, fui-me afastando, aos poucos, da escrita produzida pelo Sr. Lobo.
Enfim, como diria Almada Negreiros: MORRA O LOBO MORRA! PIM!

Depois desta, já longa, exposição e voltando ao seu início, quero deixar bem claro que (sendo verdade que alguns antigos combatentes da guerra do ultramar queriam mesmo confrontar o Sr. Lobo pela ofensa perpetrada à memória de todos aqueles que verteram o seu sangue e deixaram o melhor das sua juventude nas antigas províncias do ultramar português e não querendo de forma alguma apoiar esse eventual confronto), ELES (os antigos militares) PODIAM NÃO SABER (mas sabiam) PORQUE LHE BATIAM, MAS ELE SABIA BEM PORQUE APANHAVA...


Luís Marques

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta