segunda-feira, 26 de outubro de 2009

XI convívio anual dos ex-militares da C.C.S. do Batalhão de Caçadores 4611/72 (2)

(Por António Godinho e Luis Marques)



O XI encontro dos antigos militares das C.C.S. do Batalhão de Caçadores 4611/1072, que irá decorrer em Évora no próximo dia 14 de Novembro, terá como um dos seus momentos altos o descerramento de uma placa comemorativa do acontecimento no salão de entrada do Comando de Instrução e Doutrina de Évora (ex – RI16).




Dada a importância deste acto, a presença dos antigos militares da C.C.S. é muito importante.
Uma vez que o programa que antecede o almoço propriamente dito é muito vasto e o tempo para o completar é escasso, aqui fica o horário do referido programa:



10:00- Concentração em frente ao quartel do Comando de Instrução e Doutrina (antigo RI16).
10:30- Missa na Igreja da Nossa Senhora da Pobreza.
11:30- Homenagem aos militares falecidos junto do monumento em frente ao Comando de Instrução e Doutrina.
11:45- Descerramento de uma placa da companhia no salão de entrada do quartel do Comando de Instrução e Doutrina.
12:00- Visita ás instalações do Comando de Instrução e Doutrina.
12:30- Partida para o local do almoço.
13:00- Almoço

 Não faltes ao XI encontro anual.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

JUSTIFICAÇÕES / EXORCISAR FANTASMAS

(por Filipe Silva e Martins Correia)


Diz Filipe Silva:

Amigo Correia, um abraço para ti e todos os companheiros de armas (fórum).



O 4º Grupo de Combate da 3ª Companhia (o pelotão do Filipe Silva)



Já li e reli a tua mensagem justificativa do “célebre pé”, e tenho de exorcizar alguns fantasmas desse passado próximo, ou seja de 1972.
Após terminar, em Lamego, o 2º ciclo em Operações Especiais de Infantaria, vulgo Ranger, a 17 de Março de 1972, fui colocado no RI 16 em Évora, onde se estava a reunir o Batalhão 4611 / 72.
De salientar que estava mobilizado desde 28 de Fevereiro de 1972... Ainda não tinha terminado a especialidade como Ranger no CIOE , do qual era comandante o tenente coronel Mendonça, que me não lembro de ter conhecido lá.
De Évora fomos recambiados para Abrantes e logo de seguida para Santa Margarida para o célebre IAO, a aguardar embarque para Angola.
Quando me apresentei ao comandante Mendonça, levei logo uma descasca por me apresentar de cabelo rapado.
Começaram, aí, as nossas discussões periódicas, dado eu ter tido de lhe explicar que se tratava dum mero acto de higiene, mas podendo ele passar a considerá-lo de protesto a partir daquela data.
A 2ª foi quando me mandaram para casa, 10 dias de férias de embarque, com um rol de fardas para comprar. De imediato perguntei ao dito Mendonça: - Como é que é isto, até temos de comprar enxoval para ir para a guerra ?
A resposta do “bicho” foi: - Veja lá se não pode dispor de alguns milhares de escudos, que depois o exército lhe pagará !
Fiz-lhe logo as contas: - 850 escudos para a renda da casa, mais a alimentação da mulher e do filho, pediatra, etc., a pagar com os 170 escudos que me pagaram durante 6 meses, acha que tenho poucas dívidas? O Cristo é que fazia o milagre da multiplicação!
Após este auspicioso inicio de guerra, lá fomos para Serpa Pinto, onde se desenrola toda a problemática do Pé do Correia, que para mim culmina com a nomeação de comandante interino de companhia, com todas as responsabilidades inerentes ao cargo e um “chorudo vencimento” de 12 mil escudos mensais. Vejam que o 1º Sarg. Campos ganhava 17...
Esta constatação, e o facto de ter tido 4 dias de quartel nos primeiros 6 meses, por ter de fazer todo o tipo de operações, a nível de companhia, a nível de batalhão, a nível de sector e terminando com MVL, acções psicológicas e até uma base táctica, conduziu a mais uma confrontação com o Mendonça.
Desta vez o caso foi mais sério e meteu ameaças de ambos os lados.


Imagem de Serpa Pinto em 1973

O Campos, quando eu regressei de mais uma operação, julgo que de Vila Nova da Armada, apresentou-me dezanove participações de furriéis ( mais de uma contemplava alguns ).
Fiquei furibundo e rasguei-lhas todas nas trombas... Por seu lado ele apresentou a despacho um requerimento, dirigido ao Mendonça, para mudança de companhia por incompatibilidade com o comandante interino... E eu despachei!
Pouco tempo depois, recebi ordem para não sair da unidade em qualquer tipo de missão, até ordem do Mendonça, que se apresentou na companhia umas duas semanas depois.
Começou de peito feito a berrar que nem cabra desmamada e aos murros na secretária, no que eu o imitei de imediato. Acabei por lhe dizer que estava farto de gente que passava o pouco tempo que eu tinha, sem estar no mato, a participar dos furriéis e de tudo e todos. E que se ele se sentia mal na companhia eu não tinha o direito de o obrigar a ficar, e não pensasse que eu ia pedir desculpa ao Campos por lhe ter dito que ele era uma aberração e que lhe aplicava 20 dias de cadeia para ele aprender a respeitar os oficiais milicianos !
Mais uma vez o Mendonça me ameaçou com uma porrada, e ficou apopléctico quando eu lhe disse que já vinha tarde, pois eu já tinha um louvor do comandante da região militar de Angola, que até tinha muitas estrelas...
As coisas azedaram ao ponto de eu lhe ter dito que ou ele arranjava um comandante para a companhia, até ao fim do mês, ou desertava!
Respondeu-me que se eu estava mal que fosse agradecer ao capitão Correia, que tinha partido um pé no quarto, de propósito, para não ter de ir para o mato ! Julgo que foi daqui que surgiu a lenda “do pé”...
Não sei se ele acreditou ou não no que eu lhe disse, pois respondeu que já sabia que eu era o único oficial da companhia que cumpria com a palavra, fossem quais fossem as consequências, mas que também sabia que eu cumpria rigorosamente as ordens de combate.
Que tivesse calma e paciência que um novo capitão já estava nomeado.
Foi quando, julgo que nos finais de Maio de 72, apareceu o Teixeira.
A partir desta altura as coisas passaram à normalidade.
Um abraço amigo, para todos.

Filipe Silva



Diz Martins Correia:

Caríssimo Filipe:







A estrada de Serpa Pinto em direcção a Nova Lisboa


Tu fazes-me lembrar uma engenheira que trabalhou comigo na R.T.P. Parece que um de vocês é uma clonagem do outro. Além de serem ambos competentes, aquilo que em consciência têm a dizer ou a fazer, não estão com meias medidas.
Algum tempo depois de me porem essa engenheira no meu Departamento, alguns perguntavam-me: "Consegues aturá-la?" "É muito chata?". Como as pessoas confundem a nossa frontalidade com o ser-se chato!...Porém dei-me lindamente com ela. Sempre que ela não concordava comigo, com um sorriso nos lábios, "não mas perdoava". Como não há ninguém perfeito, com ela, sabia sempre das minhas falhas, o que não acontecia com outros que só ratavam pelas costas. Porém, na área da engenharia, ela era a mais competente. Trabalhos mais complicados, era a ela que eu recorria. E mesmo que alguma coisa ela não soubesse, arranjava sempre uma saída, para chegar à solução. Contudo, achava piada que ela, quando tinha de lidar com certas pessoas do tipo do nosso Tenente-coronel Mendonça, ia ao meu gabinete e dizia-me: "Com este fale o engenheiro, porque eu não tenho paciência para o aturar e o engenheiro é mais diplomático". Lembro-me que, nos últimos tempos que eu estive na R.T.P., tinha que ser sempre eu a falar com o responsável de S. Tomé e Príncipe.
Quando eu saí da R.T.P., única empresa onde sempre trabalhei, aproveitando uma "deixa" da lei, através da qual consegui receber uma indemnização e ao mesmo tempo uma reforma por inteiro e antecipada de 7 anos, tive que falar com a Administração, para me deixarem sair. E eu gostava tanto dessa engenheira (profissionalmente, nada de confusões) que a propus, para me substituir, porque era necessário garantir que não haveria no futuro falhas com os PALOP´s (Nós éramos os responsáveis pela instalação e manutenção das redes de emissão da RTPi nesses países).
Portanto Filipe, não te arrependas de ter sido frontal com ninguém, quando essa frontalidade é emanada pela nossa consciência que nos diz que algo deve ser dito ou feito. O nosso valor está na nossa competência. Só os incompetentes e orgulhosos é que não aceitam ouvir as críticas e as opiniões dos outros. Pelo que te conheço, sempre te considerei uma pessoa competente e sempre contei contigo, enquanto estive na companhia.
Quanto ao conselho do Mendonça de "agradecer ao capitão Correia, que tinha partido um pé no quarto, de propósito, para não ter de ir para o mato !", essa define a maldade ou estupidez do tipo que proferiu tais palavras. Só acredito que tenha sido por maldade, para denegrir a minha imagem e até porque eu sempre considerei esse indivíduo mesmo mau. Não acredito que tenha sido só por estupidez. Como é que se faz, para partir intencionalmente no quarto um pé e a coisa resultar logo à primeira? E quem acredita que logo no início da comissão e na 1ª operação parta já um pé, para não ter de ir para o mato? Quando terminasse a comissão, quantas vezes teria partido os pés, os braços e não sei que mais?... No final regressaria mesmo deficiente, não por força da guerra, mas por me ter auto mutilado no quarto!!!...Essa é demasiado estúpida, para ser dita conscientemente!!!...
A ser verdade que me recusava a ir para o mato, então no Toto, zona muito mais perigosa, nunca teria saído do quartel, até porque a tal não era obrigado. Aliás dormi sempre sozinho fora do quartel na única casa habitada entre o quartel e a sanzala.
Já em Luanda, fui sozinho num jipe com o meu condutor a um musseque tratar de uns assuntos a casa de um antigo militar da Chefia do Serviço de Material, onde eu estava colocado, quando sabia que isso era altamente perigoso. Esse musseque era um barril de pólvora e uns dias mais tarde, estava eu de Oficial de Dia ao Quartel General, rebentou lá um rebelião que me obrigou a ir várias vezes a falar com o General, Comandante da Região, transmitir os apelos de socorro que me chegavam, dizendo que havia lá muitos mortos, muitos deles decapitados.

O palácio do Governador em Sepa Pinto

Também em Luanda, estive presente num grande tiroteio com vários mortos. Aqui sim, no critério do Sr. Mendonça, era de ter partido um pé, para não estar de Oficial de Dia ao Quartel-general, porque este tiroteio era previsível e veio na sequência de um grande desfile militar anunciado com antecedência. Este desfile foi impressionante. Eram militares oriundos de Angola, que fizeram uma marcha silenciosa entre a zona dos quartéis e o Palácio do Governador, passando em frente do Quartel-general. Era uma marcha que impressionava pelo seu silêncio e pelo número de militares que passaram durante 25 minutos, numa formação a 6 ininterrupta. Na zona, uma companhia de Comandos mantinha a segurança e, quando estavam a passar os últimos militares da marcha, rebentou o tiroteio. Como Oficial de Dia ao Quartel-general, já tinha sido chamado pelo General, para controlar todos aqueles que estavam a manter a segurança ao Quartel General e estavam na posse de uma metralhadora (não me lembro do nome dela). Junto de cada um, tive de pôr despercebidamente um militar de confiança, para abater de imediato o outro, se ele se virasse com a metralhadora contra os nossos. Assisti a todo o tiroteio e no final ainda recolhi do chão um relógio óptimo, Seiko Automático, que ainda hoje funciona bem e que mantenho como recordação. É este o capitão Correia que "partiu um pé de propósito para não ir ao mato". Como eu tenho pena que o Sr. Mendonça já tenha morrido!!!...
E com os teus escritos, não resisti em falar mais um pouco de mim e da revolta que ainda hoje sinto pelo comportamento do Sr. Mendonça para comigo, prejudicando dessa maneira a 3ª Companhia.
Para ti, Filipe, os meus parabéns pela tua verticalidade e frontalidade.


Um forte abraço


Martins Correia

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Soltas" de Angola

(Por Jorge Correia)

História 1
LOCAL: CABINDA
PROTAGONISTA PRINCIPAL: FACAS



O Facas em Cabinda tocava numa banda musical (na altura dizia-se Conjunto) e costumava ensaiar à noite. Era baterista.
A malta costumava à noite, juntar-se e ir ao Cinema Chiloango, o cinema mais moderno de Cabinda . A determinado momento, mais ou menos a meio do filme, ouvíamos o Facas começar a arrear forte e feio na bateria, e...segue o ensaio.


Claro, a malta comentava em voz baixa: "lá está o Facas a fazer barulho e a não nos deixar ver o filme em silêncio"
No dia seguinte lá íamos "protestar no gozo" junto do Facas, "é pá ó Facas vê lá se deixas o pessoal ver os filmes descansado, sem aquele barulho da tua bateria". "Bate mais devagarinho na bateria pá"
Claro que acabava tudo em risada geral.




História 2 (esta é um bocadinho mais pesada)
LOCAL: CABINDA


Na Roça Lucola, quando um pelotão ficava de serviço, o capitão queria que todos os elementos desse pelotão ficassem no aquartelamento, (talvez para o defender de perigosos guerrilheiros), porém eu gostava de me desenfiar quando não era o sargento de dia. Além disso achava desnecessário e estúpido ficar na Roça se não estava de serviço. Desenfiei-me, fui para a cidade prá nigth.



Na Roça Lucola a pensar como me ia desenfiar nessa noite !!!!!

No regresso vinha o pessoal no Unimog a subir na rampa de acesso à Roça e estava à nossa espera o capitão, pois a primeira casa da Roça era a casa dos oficiais. Manda parar o Unimog e manda-me descer do mesmo. Desço e ficamos frente a frente. Ameaça-me com uma porrada, que me manda para o norte de Cabinda, etc. O tom ameaçador dele cresce, estava visivelmente fora de si. Pelo canto do olho vejo que quem estava de sentinela à casa dos oficiais era o Marfunha do meu grupo de combate, ou seja vi que tinha uma G3 á mão de semear se fosse preciso. O capitão em Serpa Pinto tinha agredido o Furriel Lopes que chegou a formalizar uma participação contra ele e veio mais tarde a desistir da queixa (fez mal, digo eu) . Sempre com ar ameaçador e colérico lá foi libertando a sua bilis. Durante todo o seu tresloucado discurso, eu não disse uma única palavra, limitei-me a ouvir e a estar atento ao que poderia ocorrer. Certamente que eu não iria queixar-me a ninguém...eu ia actuar.


História 3 (esta é para descontrair)
LOCAL: LUIANA


Num determinado momento, a poucos metros do destacamento do Luiana, deslocávamo-nos num Unimog, eu o Alferes Lisboa Botelho e mais 3 soldados, quando avistámos um elefante que seguia solitário,...normalmente, os solitários eram os elefantes que por qualquer razão (normalmente doentes) tinham sido excluídos da manada. Lisboa Botelho que andava quase sempre com a sua espingarda própria de caça grossa, desceu do Unimog, fez pontaria e disparou; o elefante abanou e parou, ficámos todos na expectativa do que se seguiria. Lentamente o elefante, virou-se na nossa direcção abanou as orelhas, produziu um som aterrador e começou a correr direito a nós. Foi o pânico, ao princípio não sabíamos se ficávamos em cima ou em baixo do Unimog. Nisto vejo que Lisboa Botelho com uma frieza impressionante, ajoelha, faz de novo pontaria e desta vez para alívio de todos acerta em cheio na cabeça do elefante que tomba. No Unimog e sem os preparativos necessários partimos para o destacamento e regressamos no dia seguinte numa Berliet. Para espanto nosso quando chegamos não avistamos o elefante, pois estava totalmente coberto por abutres que já tinham comido metade do bicho. Com alguns disparos lá os conseguimos afugentar, não sem que antes um que parecia morto, ainda desse uma bicada no tornozelo de um dos nossos homens que sangrou abundantemente.


Na nossa praia fluvial do Luiana

 

Lisboa Botelho tinha levado dois especialistas do Kimbo que com as suas catanas, e quais cirurgiões exímios, descarnaram o elefante para retirar as presas, tinha dois dentes de marfim lindos. Lisboa Botelho ficou com os dentes, o que lhes fez não sei!! mas concerteza não os deitou ao rio.



Campo de futebol do Tabi, antes das obras para o Mundial de futebol da África do Sul.



 
Em Santa Margarida já com o jornal na mão para dar uns cheiros !!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Recordações de Angola - 21

(Por Eduardo Veiga, Anónio Facas e Luis Marques)

Por intermédio do António Facas, o Eduardo Veiga remeteu-nos estas três fotos que pelo seu interesse para a "construção" da "História do Batalhão" e em particular da 3ª Companhia passamos a publicar.
São três fotos que muito vão enriquecer o nosso álbum colectivo.


Vítor Rodrigues e Eduardo Veiga e a Berliet MG-74-14

Esta foto foi tirada após o  acidente ocorrido em 19 de Janeiro de 1973 e que vitimou mortalmente o soldado condutor José Almeida Paiva, natural de Santa Marinha, Seia (ficou também ferido o soldado César Dias)


O Cabo Costa (Montijo), já falecido,  Vítor Rodrigues (escriturário), João Almeida Silva (condutor) e o Eduardo Veiga




A saída de Cabinda, em Novembro de 1974, a caminho de Luanda a bordo da fragata "Sacadura Cabral". Entre outros, o Eduardo Veiga, o ex-furriel Luís Lopes  e mais à direita o Deodato

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta