terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Foi um dia... Numa terra distante

(Por Luis Marques e Fernando Moreira)









Foi um dia... (veja aqui o vídeo)




Foi um dia... numa terra distante que tudo começou...


Ou melhor dizendo, foi um dia, no ano de 1972, na cidade de Évora, no Regimento de Infantaria 16, que começou, para os militares que incorporaram a C.C.S. do Batalhão de Caçadores 4611/1972, uma etapa importante das suas vidas, precisamente quando a maioria de nós tinha acabado de completar 20 anos de idade.
Ao cabo de 37 anos, esses militares regressaram a Évora, celebrando não só a sua partida para terras angolanas, mas também o seu regresso a Portugal, faz agora 35 anos.
Ao mesmo tempo, prestaram uma muito sentida homenagem aos militares do Batalhão de Caçadores 4611/1972 já falecidos e também a todos aqueles que em todos os tempos caíram no Campo da Honra e derramaram o seu sangue pela Independência e Liberdade da Pátria, nos vários teatros de operações na chamada guerra do ultramar.
Mais de uma centena de jovens interromperam as suas vidas e foram engajados para uma guerra que nunca lhes foi decentemente explicada, a não ser pela imposição de slogans e ideias pré-concebidas e idealizadas por uma máquina de propaganda ao serviço de uma ideologia que se veio a revelar desacertada.
Mas podem, alguns de nós, considerar que a guerra do ultramar tinha a sua justificação. Nada temos contra quem assim pensa.
Agora, o ostracismo, o deslembrança e, porque não dizê-lo, o constrangimento com que a Pátria hoje nos olha (a nós antigos militares da guerra do ultramar), como se quisesse com esse acto passar uma esponja sobre esse período da sua história, é que não podemos aceitar.
Quando vemos todos os dias serem homenageados pseudo heróis nacionais em quase todas as áreas da nossa sociedade, devemos bradar contra esse olvido com todas as nossas forças... Para que a história nos não esqueça, já que a Pátria parece decidida a fazê-lo.
E para tal, devemos usar as armas que estão à nossa disposição, tais como os blogues existentes e destinados a manter viva a lembrança dessa guerra, como é disso exemplo o Fórum 4611, bem como outros meios de divulgação do nosso pensamento, como as redes sociais. Que nunca nos falte a vontade.
Por essa razão fazemos mais um apelo a todos os nossos antigos camaradas do Batalhão de Caçadores 4611/1972 para que colaborem enviando-nos os seus pensamentos e fotos que guardam nos seus álbuns de memórias, para publicação neste blogue que a todos pertence.
Este texto é de autoria de Luís Marques, sendo o vídeo acima exibido um belo trabalho de montagem do Fernando Moreira, ele próprio um dos maiores responsáveis pelo projecto em curso de trazer até nós todos as antigos militares do nosso Batalhão.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal 2009



(Por Luís Marques e Fernando Moreira)


Natal de 2009.

O ano de 2009 trouxe-nos a alegria da aproximação entre muitos dos antigos camaradas do Batalhão de Caçadores 4611/1972.
Nunca como agora foi tão estreia a afinidade entre nós, cimentada pelos dois anos vividos em terras angolanas, no desempenho de uma missão, então dita de soberania, mas que não desejámos, nem pedimos e que levou com ela alguns dos nossos melhores anos.
Mas soubemos retirar dessa contrariedade os melhores ensinamentos realizáveis e acolher em todos nós uma sólida amizade que ao final de 35 anos nos une e nos faz percorrer este Portugal de Norte a Sul, com o único propósito de abraçar aqueles que connosco partilharam as agruras e as alegrias daqueles dois anos, em que quase tudo nos aconteceu. O bom e o mau...
Não queremos deixar passar a quadra natalícia que atravessamos, a qual significa muito para a maioria de nós, sem desejar a todos os membros deste fórum um Santo Natal e um ano de 2010 cheio de felicidades e de realizações pessoais e profissionais, votos estes extensivos à família de cada um.
A história do Natal em que queremos acreditar é aquela que nos oferece o relato da força e da esperança, que nos aproxima da necessidade imperativa de fundar um novo humanismo.
E é, no essencial, isto que se deseja também. Que com a ajuda de todos se construam os alicerces para uma outra sociedade, mais justa e na qual não haja lugar para a mesquinhez, a inveja e para o compadrio que hoje impera entre nós.



Entre milhares de poemas alusivos ao Natal que os nossos melhores escritores escreveram, escolhemos este escrito por esse grande poeta e escritor que foi David Mourão-Ferreira, apenas pela única razão de o considerarmos muito belo:

"NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
É o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?"

David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988
Lisboa, Editorial Presença, 1988

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cabinda - Tempo actual

(Por Fernando Moreira)

As gentes


Damos hoje início a um trabalho que irá ser continuado e que servirá não só para recordar como também para actualizar memórias.
As fotos são de Carlos Amaro e foram amávelmente cedidas para que todos nós possamos ver como é a Cabinda dos nossos dias. Começamos pelas suas gentes; Cabinda sofreu ao longo dos séculos a influência de migrações de vários povos de origem Bantu, e não só, que se mesclaram com os povos da floresta local e onde o europeu também deu a sua ajuda.
Diz-se que um historiador e viajante de origem àrabe de seu nome Ibn Battuta refere nas suas obras que dos povos que um dia partiram da Foz do Nilo se separam mais tarde em três ramos, um deles convergiu para o Sul de Africa dando origem aos povos Zulus, outro teria convergido para a zona da Guiné dando origem aos Mandingas e outro fixou-se na zona a Norte da Foz do Rio Zaire dando Origem à Tribo dos Homens-Leões.
Rebuscando na Filosofia Cabinda encontro este testo de panela pois que através do simbolismo do mesmo os Cabindas descreviam e transmitiam o que lhes ia na alma. Sirva o mesmo para deixarmos firmado o tempo de diálogo sempre necessário, para que os homens se entendam



TESTO N 61

( Diâmetro : 17,50 cm)


Figuras :
1) Cofre vazio
2) Copo
3) Caneca


Significado Cabindês: "Vana sili mbungu, vana sili kopu"
Em Português: «Onde pus a caneca, aí pus o copo.»
Sentido: temos de fazer uma conferência para acabar com todos os mal-entendidos.
Prov. port.: os homens entendem-se pelas palavras...


Explicação:
1) Presentemente estou pobre. E também velho. A minha antiga riqueza e valor acabaram.
Sei que tens razão para te queixares; mas que queres? Eu não posso fazer milagres.
2-3) Exponhamos as nossas razões, na esperança de chegarmos a acordo, e de, no futuro, vivermos em paz.


Passando esta introdução é tempo de imagens (clica nelas para aumentar):



Momento de Lazer



                                      Beleza. Cabinda sempre foi terra de mulheres bonitas


Equipa de obras


Venda ao público. Que diria a ASAE?
                                                                                                                                       

Buliício do dia -a-dia



Beleza "posando"


Mais duas "misses"


Cortando as folhas da palmeira
                                                   

A próxima geração


                                                    
A criançada continua a mesma de sempre



 Operário da construção civil


Fabricando tijolos


 Pirogas tradicionais

Lavra da mandioca

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

28 de Novembro de 2009

(Por Fernando Moreira - texto, multimédia e fotos)


"O homem que só tem as qualidades próprias da sua idade e do seu estado é o homem admirável.
O que reúne a essas grandes qualidades os pequenos defeitos que lhe são congéneres é o homem completo.”

Ramalho Ortigão

35 anos depois - Parte A - o vídeo




28 de Novembro de 2009, levanto-me, despacho-me e toca a sair de casa pois ainda tinha de ir apanhar a minha mãe a Odivelas. O Bruno não podia ir em virtude de um jogo antecipado.
Tinha chegado o grande dia, 35 anos depois ia voltar a ver na mesma “parada” muitos dos elementos da 3ª Companhia do Batalhão 4611/72 com os quais me cruzei na Roça Lucola, em terras de Cabinda, pequeno enclave ao norte do Rio Zaire, Costa Ocidental Africana.
Saio de casa, dia de nevoeiro, resmungo que era o ideal para um dia de viagem, à chegada a Odivelas nem foi preciso buzinar pois a minha mãe já estava também despachada, estava com o mesmo espírito que eu: era um dia para reviver!!
Chegámos a Abrantes, ao local de encontro, e vou em busca do António Elias e do José Duarte que estavam hospedados no Abrantur e portanto já no ponto de encontro. O Duarte fazia anos e não só por isso estava óptimo nesse dia. Tomámos um café e passado um pouco junta-se a nós o Brazão, responsável pela organização do evento.
Deixámos as senhoras na conversa e viemos andando para o ponto de encontro pois não tardou que começassem a aparecer os vários componentes daquele grupo de amigos cujos laços de amizade foram criados e consolidados no então designado Portugal de Além-Mar.
Para referir aqui nomes teria de elaborar uma longa lista correndo o risco de me esquecer de algum, prefiro não o fazer...
Prefiro referir a alegria que me deu ver rostos que fui adicionando aos nomes que ainda retinha na lembrança, refugiado numa observação que me permitia inserir-me no convívio e ao mesmo tempo retirar-me fazendo o registo do mesmo, apercebendo-me melhor da alegria reinante.
De notar a alegria de um dos elementos da 3ª. Companhia, de seu nome Meireles, que tal como eu só agora tinha conseguido voltar ao convívio dos seus camaradas da jornada africana, 35 anos de contactos perdidos e que agora foram retomados devido ao esforço que se tem feito em se voltar a reagrupar os elementos dispersos.
Não me posso também esquecer de referir a presença de elementos da CCS e também da 2ª. Companhia, não sei se teria estado alguém também da 1ª. Companhia, o que pressupõe um bom indício de que se caminha de forma segura para um futuro encontro do Batalhão 4611/72.
Sensibilizou-me igualmente um episódio relatado por um camarada em que aproximando-se de mim referiu que quando esteve na Roça Lucola – Cabinda, numa escola que a Companhia criou tendo como professores o Figueira, entre outros, aprendeu a ler nos meus livros de escola e nos meus pontos. Confesso que já não tinha muita memória da escola, talvez por ser escola, mas foi incrível a descrição que esse amigo fez pois inclusivamente recordava-se que eu tinha acabado nesse ano o 2º. Ano do Ciclo Preparatório e entrado para o Liceu.
Como eu costumo dizer, nem tudo foi mau...
Neste entretanto a minha mãe deliciava-se com a agradável conversa com que foi envolvida durante todo o tempo pois veio de lá muito satisfeita face ao modo com que foi mimada por todos.
Não posso esquecer também a festa de aniversário improvisada que se realizou à volta do Duarte o que trouxe mais festa a uma festa já de si excelente.
A ideia que levava deste grupo é a mesma que trouxe, referir algo mais seria repetir “posts” anteriores, apenas deixo o desejo de trabalharmos todos juntos para que o ano de 2010 possa fortalecer estes laços, possa criar ou reatar outros laços de amizade e que os próximos Novembros tragam um convívio renovado, ainda mais participado e fraterno.
Só para terminar quero referir algo que um dia li e que dizia algo como isto: “A riqueza de um homem avalia-se pela quantidade de amigos que soube fazer”. Dou muitas vezes por mim a pensar nisto, pois é um facto que a família é a que temos, temos de aceitá-la como é, a vida dá e tira consoante as suas marés, a única coisa que é mesmo nossa são os amigos pois são laços que criamos e alimentamos e no dia em que os tivermos perdido... nesse dia seremos verdadeiramente órfãos!!
Se dúvidas haviam, aí estão as fotos e o registo de vídeo do encontro.


Bem Hajam.
(clica nas imagens para aumentá-las)






 











terça-feira, 24 de novembro de 2009

Recordações de Angola - 21 (Luis Silva)

(Por Luis Marques - Fotos de Luís Silva)

O Luís Silva foi 1º cabo operador de cripto da 3ª Companhia.

O Luis Silva esteve vários meses em M’pupa, destacado na C.C.S.


O Luís Silva e o Luís Moura Afonso (1º Cabo enfermeiro da C.C.S. há muito retirado do nosso convívio e agora localizado pelo João Rodrigues Cunha e pelo António Facas)

O Luis Silva, conhece bem o que foi a realidade das duas companhias do Batalhão de Caçadores 4611/1972. Ninguém como ele terá um conhecimento tão vasto e simultâneo, já que “pertenceu” a ambas e nas duas fez amizades.



O Luís Silva e o "Piçudo" a mascote da C.C.S.

Há dias tive oportunidade de com ele conviver, muitos anos depois de com ele ter partilhaado momentos e episódios passados em M’pupa. Pude constatar que as suas memórias sobre pessoas e factos ligados à C.C.S. estão bem vivas. O mesmo se dirá, com mais razão de ser, relativamente à 3ª Companhia.
O Luís Silva entregou-nos, por intermédio do António Elias, um conjunto de fotografias que reflectem um pouco do quotidiano das duas companhias. São documentos de elevado interesse que muito vão enriquecer o nosso álbum de recordações colectivo, pois contemplam recordações de locais bem diferentes como M’pupa, Serpa Pinto, Luanda e a Fazenda Tabi.


Em M´pupa

Em Serpa Pinto, à porta do seu quarto

Em M'pupa (tudo a fazer peito para impressionar...)

Com o António Lavado Ferreira (também 1º cabo cripto da 3ª Companhia), na 2ª noite após a chegada a Luanda)

Em Serpa Pinto

Em M'pupa, em pose para a fotografia (ao centro o soldado  José António Nunes, da C.C.S., já falecido)



Em M'pupa com uma cabeça de um bufalo caçado no dia anterior (segundo a legenda aposta na foto, teria cerca de 900 kilos)

Na primeira noite em Luanda (Amigo, Luís Silva, Facas, João Salgado, Jorge Correia, Lavado Ferreira e Arlindo Silva)


Na Fazenda Tabi, subindo a uma Palmeira


Ainda na Fazenda Tabi


Na Fazenda Tabi, fazendo protecção, enquanto se pescava à granada


Na Fazenda Tabe, junto à ribeira que servia para irrigação e na qual se apanhava camarão do rio "a granel"


Duas fotos na Fazenda Tabi
 

Fazenda Tabi, aquando da visita do comandante da RMA, General Luz Cunha (ver relato desta visita de autoria do António Facas, publicada em 9 de Maio de 2009)

O João Salgado e o Luis Silva, na Fazenda Tabi

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta