quarta-feira, 22 de julho de 2009

José Francisco Oliveira Costa "o Montijo"

(Por Fernando Moreira, Filipe Silva e Artur Girão)
"A morte não nos diz respeito, nem mortos nem vivos:
Vivos, porque ainda o estamos, mortos, porque já não existimos"
Michel de Montaigne, in "Ensaios"

O Costa "Montijo", Girão e Brazão na despedida de Cabinda (foto do Vítor Fernandes)

No seguimento que tenho feito aos “desaparecidos em combate” fui aos Bombeiros do Montijo em busca do Ex-1º.Cabo. José Francisco Oliveira Costa que tinha a especialidade de apontador de morteiro mas que por vezes fazia uns biscates como electricista auto, individuo alto e de farto vozeirão.
Foi-me dada a notícia que o José Costa faleceu o ano passado de morte súbita.
É isto que me assusta quando tento reaver as minhas memórias, ou reajustá-las, é o não conseguir chegar a tempo.
Soube que ele tem um filho, possui o mesmo nome do pai, José Costa, e tem uma oficina na auto na Atalaia-Montijo.
Desloquei-me lá e apresentei-lhe as minhas condolências e transmiti-lhe alguma memória que ainda possuía àcerca do Costa, do seu alto porte e farto vozeirão. Dizem-me os bombeiros do Montijo, ex-companheiros, e o seu filho que ele era mesmo assim.
Deixei-lhe ficar o endereço do Blogue do 4611 para o caso de ele ter interesse em ver por onde o pai tinha andado enquanto militar, pois o percurso de cada um acaba por ser, nestes casos, o percurso colectivo.
Achei que deviam saber e para algum que tivesse sido próximo do Costa naqueles tempos aqui fica o contacto do Filho: José Costa – 969064982.


O José Costa, "o Montijo" de braço dado com o Matão

Fernando Moreira

Costa,
A tua partida para o outro lado da vida, camarada de armas, padecimentos e alegrias, não foi em vão.
Em qualquer sítio ou lugar em que te encontres, certamente receberás os nossos pensamentos de amizade e agradecimento por nos teres deixado privar contigo ...
Bem hajas Costa, a tua memória ficará para sempre gravada nos nossos corações.

Filipe Silva

O "Montijo" numa missão de patrulhamento no Miconje (foto do José Duarte)


O José Costa "Montijo", fazia parte do 4º grupo de combate da 3ª Companhia.
Era um atirador de morteiro excelente.
Uma vez, num exercício de tiro, em Serpa Pinto, o Filipe indicou-lhe uma árvore a uns bons 200~300 metros.
Ficou a floresta mais pobre ao primeiro morteiro.
Bom tipo... sorridente, amigo do amigo, solidário.
Fica na minha memória como um bom camarada.

Artur Girão

"A morte não pode ser pensada, pois é ausência de pensamento.~

Temos de viver como se fôssemos eternos"

André Maurois,in, "Em que Acredito"

6 comentários:

Luís Marques disse...

Quando um de nós parte, um pedaço da gente parte com ele. Será assim até que chegue a nossa vez…
Não tenho lembrança do 1º Cabo Costa; mas sei que os nossos caminhos se cruzaram por terras de Angola.
Que descanse na paz eterna!

fmoreira disse...

Sabem que o Costa entre as coisas que trouxe do Sul figuravam um arco e flechas e uma machadinha indígena que ele depois achou que não lhe iria trazer serventia nenhuma e acabou por me oferecer aquilo. Vocês podem imaginar um pilantra que sempre simpatizou mais com os índios do que com os Cowboys de arco e flecha nas unhas?
À conta daquilo e de andar a dar flechadas nos mamoeiros ainda levei uma trepa do meu pai.
Também foi ele que me explicou como funcionava o morteiro, não o de prato mas aquele de tubo com uma alça de cabedal onde figuravam as cotas em mts e que para ser utilizado se apoiava o tubo no solo com o pé pisava-se na cota que se calculava a olho e depois puxando o tubo ao nosso corpo se introduzia então a granada no mesmo, segurando a granada com os dedos em anel de modo a nunca ficarem na zona de saída da granada.
Isto para um miúdo de 12 anos era informação classificada, se calhar por isso é que quando chegava a casa e me punha a relatar estas “lições” à minha mãe a pobre coitada ficava de olhos arregalados, eh! eh!

Tens razão Facas, o tempo nunca é o que queremos que seja e as memórias são a única coisa que partirá conosco.
Não me recordava da alcunha dele mas é isso mesmo; “Montijo”.

"Entre a vida e a morte existe sempre um espaço chamado tempo.
Nem sempre tem a mesma duração, embora às vezes curta, ficam sempre memórias que SEMPRE recordamos."

(Recebido do Facas)

José M Francês disse...

Cada palavra expressa, no artigo e comentários , revela bem qual o tipo da relação que nos une !
Paz à Alma do Nosso Companheiro !
Deste e de todos os outros que vão partindo deste mundo, ficarão as gratas recordações dos nossos caminhos cruzados, como muito bem assinala o Luis !

Eduardo Veiga disse...

Cheguei hoje de férias e é com uma lágrima no olho que leio o desaparecimento do Costa.
A vida por vezes é madrasta, mas todos nós um dia vamos encontrar-nos, não sei onde,
Enquanto pudermos conviver e recordar o passado sem mágoas ou quezilias então estamos vivos. Porque é esta a única certeza que o futuro é temporal
Um abraço para todos

José Duarte disse...

Li agora no "Fórum 4611" que o Costa nos deixou.
Embora nunca tenha comparecido em nenhum dos encontros da Companhia, aliás como mais alguns, o Costa sempre esteve presente na minha memória angolana.
Em operações, a palmilhar kms., não seria o seu forte, mas em escoltas e patrulhamentos, estava sempre disponível para acompanhar o 3ºgrupo da Companhia
Em Cabinda, em Junho / Julho de 1974, já não posso precisar, foi comigo "passear" até ao Miconje. Deste "passeio", num dos cd's que entreguei ao Fernando, lá está "o Montijo", junto a uma Panhard.
Mais tarde, fins de Setembro, princípios de Outubro, num patrulhamento à cidade, o jeep teve um furo num dos pneus traseiros. "Macaco" não havia mas,como lá estava o Costa, também não foi preciso. Naquela avenida, as árvores jovens tinham o suporte de uns troncos, pelo que, o Costa, arrancou um, enfiou-o por baixo do eixo trazeiro e levantou o jeep, para se mudar a roda.

fmoreira disse...

Este mundo é mesmo pequeno, corremos, atravessamos a rua, viramos à esquerda… à direita e acabamos na esquina de onde partimos,
em algum local onde já estivemos ou damos de caras com alguém conhecido.

Esta história do Costa de vez em quando regressa à minha mente não por nada de negativo, apenas por pensar que apenas somos pó,
se seguirmos a teoria da criação cristã, temporariamente enformados e por pensar que é irónico por vezes estarmos perto de uma pessoa
anos a fio e ser essa pessoa a chave de algo que buscamos, sem que tal saibamos.

Há dias indo tomar o café da manhã aqui ao refeitório do terminal em Alcochete lembrei-me de perguntar às senhoras que trabalham no
mesmo e que são aqui da Atalaia se tinham conhecido o José Costa.
Qual a minha surpresa quando confirmaram que sim e para meu espanto ainda me disseram que a viúva dele era uma das senhoras que
trabalham no terminal.
Aí caíram-me os queixos, aos anos que me cruzo com a senhora, todos os dias nos cumprimentamos, o ano passado quando apareceu
vestida de preto lamentei o ocorrido e até me recordo que na altura uma colega minha, também aqui da zona, comentou que eram um casal
muito unido, iam para todo o lado juntos e que ele (o Costa) era muito amigo da esposa.
Lembro-me de ter pensado o quanto a vida era ingrata e que nesta contabilidade doida os subtraídos são normalmente os que mais falta fazem.

Hoje estive a falar com ela, referiu-me o modo como ele era, que se encaixa nas opiniões dos demais e já manifestadas, e referiu-me ainda
que ao contrário de outros militares que tinham estado no Ultramar ele referia muita vez a grandeza daquelas paragens, a saudade que tinha
daqueles tempos e o desejo de lá voltar se a vida lho permitisse.
Quis o destino que tal não acontecesse.

Achei que gostariam também de o saber…

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta