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No Mucusso pedindo boleia para Vila do Conde |
Episódio 1 – A viagem para o Mucusso
Após a nossa chegada a Luanda e de todo o processo estar concluído, chegou o dia, em que deixámos o Grafanil, e partimos em coluna motorizada rumo ao Sul de Angola, mais concretamente com destino à Coutada do Mucusso, que era o lugar que estava destinado para a 2º Companhia, e onde iríamos permanecer alojados durante muito tempo.
No entanto para lá chegarmos não bastou só ir de Berliet em coluna militar. Acabámos por chegar a um lugar, onde estavam destacados militares, não me recordo bem do nome, mas penso que seria o Dirico e onde ficámos em trânsito, até que por fim lá conseguimos chegar, uns de avião (C-47 Dakota) e outros de avioneta, que era o meio de transporte dos frescos e correio, obrigando a que fossem efectuadas várias viagens, devido à fraca capacidade de transporte.
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Coutada do Mucusso em 1973 |
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Em serviço na Coutada do Mucusso |
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"Aprendendo" a pilotra um héli na Coutada do Mucusso |
Episódio 2 – A caçada
Certo dia formámos um grupo, para ir caçar, e aconteceu que poucos quilómetros mais á frente, avistámos uma manada de palancas, após as termos perseguido abatemos duas, o que pelas nossas contas já daria para durante uma temporada comermos, bifes, estufado e outras iguarias, melhor dizendo… direito a rancho melhorado.
No entanto a uma das Palancas fui eu que lhe dei o tiro fatal que a abateu. Esta situação aconteceu, porque ao aproximar-me da peça a pensar que estava morta, e estando eu já a dois metros da mesma, ela levanta-se de repente, e eu instintivamente apontei a G3 e disparei dois tiros tendo a dita caído fulminada. Foi complicado em termos cardíacos mas na altura os nossos índices de adrenalina eram excelentes.
(…)
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Coutada do Mucusso |
Episódio 3 – O dia em que a Berliet virou submarino
Em relação ao menos bom, que também aconteceu, recordo algumas situações de quando íamos para o mato, em reconhecimento, ou noutras operações, que eram designadas pelo comando superior, onde estávamos inseridos, e que em média podiam durar entre três, ou mais dias, a palmilhar terreno em busca de algo relacionado ou parecido com o inimigo, chamados de “turras” por ser diminutivo de terrorista. Felizmente no Mucusso, enquanto lá estivemos, não aconteceu, para nosso bem, nada de significativo que mereça referência neste domínio.
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Em 1972, na Coutada do Mucusso, à porta da enfermaria, com duas "beldades" lá do sítio, À direita esta o "Cuba", cantineiro |
Porém numa ocasião, aconteceu, num dia em que fomos ao Calai, que era um posto fronteiriço distando uns bons 200 quilómetros do nosso destacamento e que fazia fronteira com a Namíbia, um episódio que merece referência.
Esta operação, de abastecimento de gasóleo, demorava normalmente entre três a quatro dias, dando tempo para trocarmos a nossa moeda por Rands, que era a moeda em circulação do outro lado da fronteira, e procedermos a algumas compras nas lojas existentes, normalmente artigos para higiene pessoal e de vestuário, em especial t’shirt`s.
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Numa picada na Coutada do Mucusso |
Como não há bela sem senão… No regresso de uma dessas viagens, acabámos por ter um acidente junto da margem do rio Cuíto com uma Berliet que, mal travada, deslizou e acabou por ir parar ao fundo do rio. Neste local existia uma jangada, presa com um cabo de aço entre uma margem e outra, onde com cuidado e bem orientadas, as Berliet, iam para cima da mesma, para atravessar de um lado para o outro. Esta passagem constituía um ponto estratégico, pois para além de proporcionar mais rapidez nas operações militares, era também muito importante para o pessoal civil no seu dia-a-dia. Ficamos ali retidos durante dois dias, até que nos socorressem pois a Berliet tinha, a todo o custo, de ser tirada do fundo do rio e tínhamos de igualmente recuperar as G3, que se encontravam dentro da mesma.
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A jangada do Rio Cuito (Dirico) onde ocoreu o acidente |
A dificuldade naquela zona do rio, era a existência de um lar de hipopótamos, e não eram poucos, e para se fazer alguma coisa com segurança, era necessário lançar primeiro umas granadas para os afugentar, só então se voluntariaram dois camaradas que mergulharam numa primeira tentativa de recuperação das armas, e posteriormente para a colocação de cabos que permitissem tentar sacar a viatura do fundo do rio. Armas recuperadas, não na totalidade, pois ficaram sete no fundo, uma delas era minha, a Berliet também após bastante tempo, e com enorme custo, acabou por ser recuperada.
Após estarem as operações de resgate encerradas e estar tudo sob controlo lá seguiu a viatura, que foi rebocada até ao destacamento, onde acabou por ser alvo de uma grande manutenção devido a que tinha água, por tudo quanto era sítio. No final tudo correu bem... digo eu!!!
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A equipe de futebol da "Formação" na Coutada do Mucusso. Reparem no campo de futebol com a relva (capim) bem tratada |
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Ida ao Calai - abastecimento de combustível |
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Parte da equipa das transmissões |
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Com o cabo cripto Oliveir em 1973 |
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Com o Furriel Figueiredo |
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Com o Rocha de tranmissões |
Um abraço,
Zé Veiga