quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Do Grafanil em Novembro de 1974 até hoje

(Por Abílio Hermenegildo)

Do Grafanil em Novembro de 1974 até hoje.

Saída do Grafanil no dia 8 de Novembro (que me corrijam se estiver enganado) juntamente com todos os outros que faziam parte do grupo de mesclagem.


Saída de Cabinda
(No dia 05/11/1974 às 16 horas estava neste batelão, encontro-me ao fundo de óculos escuros por trás de mim um rebocador que possivelmente seria o que levou o batelão até àfragata. Aqui o momento já era de bastante alegria por estar já mais perto da chegada a casa, mas por outro lado com alguma tristeza por deixar alguns amigos e amigas em Cabinda que nunca mais voltei a ver, a não ser umas moças  que reencontrei ao fim de 25 anos aqui em Angra do Heroísmo)


Seguimos em Berliet’s para Sá da Bandeira acompanhados, se a memória não me falha, pelo alferes Figueira e por dois furriéis, o Jorge Correia e Gomes. Depois duma longa viagem de 600 km, chegámos a Nova Lisboa à noite onde pernoitámos.
No dia seguinte, bem cedo, seguimos para Sá da Bandeira, mais 415 km andar debaixo dum intenso calor. Aqui chegámos ao início da tarde e acabámos (eu, o Leal e o Almeida) por ir almoçar numa tasquita ali próximo do quartel.
Lembro-me bem que o quartel estava deserto porque era um sábado (pela data do documento de passagem à disponibilidade devíamos ter chegado no dia 09/11/1974) e houve uma certa dificuldade para entregar o grupo ao oficial de dia, mas tudo se resolveu.
Depois das formalidades de entrega do grupo, fomos tratar do espólio do material e só no dia 11 de Novembro é que se começou a tratar dos papeis da passagem finalmente à disponibilidade.
A partir do momento que ficámos por nossa conta, foi uma correria pois andávamos todos eufóricos com a passagem à “peluda”.
Depois de cumpridas as formalidade do “adeus à tropa” em Sá da Bandeira no dia 14 de Novembro de 1974 (ainda tenho o documento religiosamente guardado que foi emitido no Batalhão de Caçadores que pertencia ao R. I. 22), regressei ao Lobito juntamente com o Leal.



(Como podem verificar o documento está também a ficar muito velhinho)



Quando se iniciaram os desentendimentos entre os movimentos de libertação MPLA – FNLA – UNITA (a partir talvez de Março de 1975) em várias zonas de Angola, incluindo o Lobito, começou então o êxodo, diria que quase maciço da população, e foi nessa altura que perdi o contacto do Leal. Ainda permaneci no Lobito até Outubro de 1975, pois sempre fiquei confiante que tudo acabasse em bem.
Mas a situação no Lobito estava a piorar assim como em quase toda a Angola e precisamente a 9 de Outubro quando embarquei juntamente com algumas dezenas de pessoas num pequeno barco de transporte de gado que saiu do Lobito ás 19horas para Luanda, numa viagem que durou quase 36 horas, visto que naquela altura era o único transporte disponível sem estar muito sob controle dos movimentos de libertação que dominavam a situação militar.
Chegado a Luanda, estava já combinado com pessoas amigas que foram ao porto de Luanda na calada da noite buscar-me e seguir escondido para o aeroporto de Luanda.
Aí fiquei cerca de 3 dias até conseguirem que fosse num voo da ponte aérea da TAP existente na altura.
Chegado a Lisboa talvez a 15 de Outubro de 1975 e até Novembro de 1979 vivi em Lisboa onde trabalhei num laboratório de engenharia civil na construção da auto-estrada Vila Franca de Xira/Aveiras de Cima. Durante este período que estive em Lisboa, logo no início de ter vindo de Angola, não sei como aconteceu, encontrei-me com o Gentil o Salgado e o Luís Silva (o Gentil deve-se lembrar em que sítio nos encontrámos e em que café).
A partir de 20 de Novembro de 1979 vim para os Açores pela Tecnovia para a fiscalização da construção dos aeroportos das Ilhas Graciosa S. Jorge e Pico assim como a ampliação da marina da Horta na Ilha do Faial. Mas em Junho de 1980 fui convidado para fazer parte do quadro técnico do Laboratório da Secretaria Regional do Equipamento Social na altura.
Em 1982, devido ao sismo de 1980 consegui vir para a Ilha Terceira para a cidade de Angra do Heroísmo, para montar um laboratório para a fiscalização da reconstrução e aqui fiquei a residir e a trabalhar. Entretanto casei.
Mais tarde acabei por sair e deixar de trabalhar no Laboratório de Engenharia Civil, porque concorri para a banca. A partir do dia 1 de Fevereiro de 1983 comecei a trabalhar na Caixa Geral de Depósitos onde permaneci até 30 de Dezembro de 2008 e a 31 de Dezembro passei novamente à “peluda” (risos). É verdade, 31 de Dezembro de 2008 foi o meu 1º dia de reformado. Tudo isto aconteceu porque fizeram uma sondagem para quem estaria interessado em antecipar a reforma. Nada tendo a perder, antes pelo contrário, reformei-me mais cedo 3 anos do que estava previsto. Aliás, estava mesmo a precisar de descansar um pouco, pois já andava bastante cansado e esgotado com imensos objectivos para cumprir e estava a ser uma tarefa muito difícil de realizar ultimamente.
E foi isto o que se passou desde a altura que vos deixei no Grafanil até hoje, muito resumidamente, apesar de estar a ficar já uma história muito longa.


Foto do 4º Grupo de Combate da 3ª Companhia, na Roça Lucola, em Cabinda
Um forte abraço para todos

9 comentários:

Luis Marques disse...

Excelente relato. É "disto" que o meu povo gosta!
O que o Abílio nos diz, é, em parte, o complemento do trabalho publicado aqui no blogue em 24 de Julho de 2009 pelo Jorge Correia, o qual retrata a partida de Cabinda dos militares da 3ª Companhia, da incorporação de Angola, a Caminho de Sá da Bandeira, embora com o acerto das datas. Tudo se passou em Novembro de 1974 e não em Agosto, como refere o Jorge Correia. Ai essa memória, Jorge...
De destacar a foto do 4º Grupo de Combate. Vai haver muita gente a fazer o download da mesma, pois parece que ela escasseia por aí.
O Abílio "ameaçou-me" como novos trabalhos. Que ele venham depressa...

Jorge Correia disse...

Gostei muito dessa descrição, decerto tudo valeu a pena, embora concerteza fora do inicialmente previsto para a tua vida, mas com a tua coragem e denodo conseguiste uma vida diferente e cheia de realizações, que no cômputo geral, foi positiva. Gostava muito de me encontrar contigo e decerto isso vai ser possível, algures neste louco planeta !!!

Grande abraço e muitas felicidades !!

Agora para o Luis,

Eu não me enganei; repara, a nossa saída de Cabinda deu-se em Agosto, mas foi a saída de Cabinda para Luanda. Depois tal como diz o Abílio e eu afirmo no tal trabalho de Julho, por volta de fins de Outubro, princípio de Novembro, ele agora esclarece que foi dia 8 de Novembro é que saímos de Luanda (grafanil) e eles foram entregues no Quartel de Sá da Bandeira,...portanto não houve esquecimentos da minha parte (mas podia ter havido ) sobre as datas !

Abração!!

Luis Marques disse...

Eis o esclarecimento do Jorge.
De qualquer forma, de Agosto a Novembro de 1974 em Luanda...cidade de mil encantos! grandes vidas...

Jorge Correia disse...

Ganda Hermenegildo ! é pá, só há uma coisa que eu penso que tu te enganaste, foi quando relatas que a tua partida de Cabinda se deu a 5 de Novembro. Eu o Figueira, o Gomes e penso que o Brandão fomos mais cedo para preparar o terreno (não preparámos nada) e sei que fomos em Agosto. O resto e grosso do pessoal penso que terá ido em princípios de Setembro,...quanto ao resto bate tudo certo, foi realmente em princípios de Novembro que fomos para Sá da Bandeira levá-los e ainda ficámos em Luanda até ao regresso ao puto em 25 de Novembro74.
Sabes que depois de os deixarmos em Sá da Bandeira, aproveitámos e demos umas voltas por Angola e conhecemos Benguela, Lobito, Carmona e Novo Redondo, tudo cidades muito bonitas, muito mimosas, muito bem cuidadas, as casas as praças, tudo !! em Novo Redondo conhecemos umas miúdas que andavam no Liceu e ficámos 4 dias na cidade a confraternizar,uma delas era recepcionista no Hotel onde ficámos hospedados e até organizámos uma festa no terraço do Hotel. Houve um acontecimento giro, elas entretanto convidaram-nos para irmos ao baile de finalistas do Liceu e deram-nos a data do Baile,..entretanto fomo-nos embora para Luanda, o dever chamáva, e estávamos um sábado no nosso local de "trabalho", praia da Barracuda, quando o Gomes se lembrou da data e chamou a nossa atenção,..é pá, é hoje o dia do tal baile de finalistas das miúdas de Novo Redondo...que tal irmos até lá ??? Boa idéia dissemos nós, bora lá !! como o Figueira se baldou a ir e estava connosco na praia o Facas, alinhámos os três, eu, Gomes e Facas e arrancámos para Novo Redondo, eram 5 horas da tarde, a cidade ficava a 500km de Luanda, nem passámos pelo Hotel pois tinhamos roupas dentro do carro, ás 10h em ponto entrámos triunfantes no baile de finalistas do liceu e não é que as miúdas tinham uma mesa reservada para nós ? bem, não vou contar mais, só que foi o grande carnaval e ficámos lá mais 3 dias,...só que na volta entre Novo Redondo e Carmona, acho que vinha o Facas a conduzir o Autobianchi, deparámos com 4 gajos na berma da estrada equipados de camuflados e com armas na mão,...um deles fez-nos sinal para pararmos, eu e o Gomes gritámos ao Facas para cagar neles e meter prego a fundo, acelerar o mais possível e o Facas assim fez..acelerou o bólide e nós fomos um bocado quase completamente deitados no carro, não fossem os mangas atirar, mas correu tudo bem e chegámos são e salvos.
Bom, mudando de assunto: é pá a tua cidade o Lobito era uma cidade encantadora, estivemos lá bastantes dias, pois fomos barrados à saída por uma barreira na estrada de camionistas que nos forçou a voltar para trás e ao todo permanecemos uma semana na cidade, ficámos no maravilhoso Hotel Términus, por sinal com terminal directo para a praia heheheheh. Gostei imenso do Lobito e vou-te fazer um desafio...que tal voltarmos lá ao Lobito ?? era uma boa ?? tenho uma amiga que veio em Março de 75, vivia em Luanda e ela envia-me muitos mails com fotos de Angola entre elas do Lobito...a cidade está espectacular, muito moderna, linda, perservaram tudo, mas modernizaram, o que achei muito interessante, não destruiram a fisionomia da cidade, foram inteligentes. Bem, isto já vai longo, manda notícias,

Um abraço!

fmoreira disse...

Abílio,

As moças que referes teres encontrado em Angra por acaso não serão da Família Serrano? A Nela e a irmã?

Abílio Hermenegildo disse...

Exactamente Fernando, o engº Alexandre Serrano a esposa Dª. Raquel a filha mais velha que é a Nela que vive em Lx, a Xana que vive aqui em Angra do Heroísmo e o mais novo que é o Alexandre, este vive nos USA mas já estive com ele aqui há uns anos.
Um abraço.

Abílio Hermenegildo disse...

É verdade Fernando, os melhores tempos que passei foram em Cabinda, tb tenho que reconhecer que tive sorte em conhecer mta gente e que me convidava para todo o lado. Um dia havemos de conversar a relembrar os cerca de sete meses que passei em Cabinda desde as noites Cabindenses como diz o Jorge Correia aos lanches no Hotel Maiombe (risos). Fui de certa forma um pouco privilegiado, não posso queixar.
Um abração

fmoreira disse...

Mais uma vez deixo o meu comentário habitual: Nem tudo foi mau!
A prova disso é que aqui estamos todos em amena cavaqueira, uns mais intervenientes, outros mais expectantes mas o facto é que aqui estamos e penso que gostamos de estar pelo menos esse é o meu sentir.

Unknown disse...

Boa tarde, o meu pai fez parte os que ficaram no Grafanil a entregar o espolio aos Angolanos regressou no inicio de Dezembro de 1975.
Saudações a todos os ex-combatentes.

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta