quarta-feira, 13 de maio de 2009

O reconhecimento da Pátria (que não temos...)

(Por Luís Marques)

A nossa Pátria, para fazer-se amar,
deve ser amável


Edmund Burke, in “Reflexões sobre
a revolução francesa”


Em Portugal, muito recentemente, foram trasladados os corpos de alguns militares (pára-quedistas da Companhia de Pára-Quedistas 121) mortos na Guiné.
Foram transportados no porão de um avião civil, desembarcados sob o maior sigilo e entregues às famílias, tudo isto num aeroporto militar, o de Lisboa (Figo Maduro), longe, bem longe, dos holofotes da comunicação social, que preferiu encolher os ombro e assobiar para o lado, dando destaque a outras notícias que reputa de mais importantes.
Acresce que a trasladação não se deveu a qualquer iniciativa do governo português, mas a um conjunto de boas vontades e empenho de antigos militares, sob a égide da respectiva associação, fiéis ao lema dos pára-quedistas portugueses, "ninguém fica para trás".
Tudo isto 35 anos após a independência daquele país africano.
Vem isto a propósito, se outra razão não houvesse (e há!), das imagens que aqui publicamos no Fórum 4611 que documentam a homenagem prestada pelo povo do Canadá a 6 seis dos seus militares mortos em combate.
Em Portugal, nunca se viu uma homenagem deste tipo a quem dá a vida pela Pátria (sejam Soldados, Polícias ou Bombeiros).
Faz parte da cultura e da educação de um Povo.
Como nos dizia há dias o Fernando Moreira, “Esquecer o passado, não aprender com ele e não o honrando será uma forma dos povos irem perdendo o seu horizonte”.
Continuamos a ser um povo ingrato e ridículo, que em vez de defender quem nos protege, apenas se lançam criticas, por que é moda falar mal do próximo.
Em Portugal só fazemos isso pela Selecção Portuguesa de Futebol, que nunca ganhou coisa nenhuma, embora sejam pagos ao peso do ouro.
Estas imagens mostram bem a diferença de cultura de dois Povos.
Enquanto num país se escondem aqueles que derramaram o seu sangue pela independência e liberdade da Pátria, remetendo os seus restos mortais, “esquecidos”, para a porta das traseiras, e arrumando-os num qualquer saguão, noutro país prestam-lhes a merecida homenagem.
Enquanto isso, os que têm vergonha dos seus verdadeiros heróis, enaltecem os seus mercenários e os “heróis” de pacotilha, pagos a peso de ouro.
Soubesse a Pátria honrar aqueles que por África andaram e os que lá morreram.... Acho que não era pedir demais.


A chegada do avião que transportou os restos mortais dos seis soldados mortos em combate à base militar de Trenton, Canadá
A auto-estrada por onde passou o cortejo fúnebre passou a denominar-se "Auto-estrada dos Heróis"

A partida do cortejo da base militar de Trenton, a caminho de Toronto

Ao longo da estrada milhares de cidadãos vestindo "t-shirts" vermelhas


Ao longo do percurso, os bombeiros com as suas mãos sobre os seus corações


Entre Trenton e Toronto, há 50 pontes, todas elas ocupadas por policias, bombeiros e, especialmente, pelo povo anónimo


A população veio saudar estes heróis


Os cidadãos de Oshawa nas pontes a saudar os seus heróis

um popular anónimo a saudar os militares mortos

O capitão Mark Bossi, que serviu no Afeganistão, tenta conter as lágrimas ao longo da estrada


Seguem-se algumas imagens da cerimónia de homenagem aos três pára-quedistas cujos corpos foram resgatados das suas sepulturas na Guiné pelos seus antigos camaradas.

Quero destacar que a homenagem foi uma iniciativa da Associação de Pára-quedistas e teve lugar na Base Aérea de Tancos. Não foi, portanto, uma homenagem da Nação. Porquê?


Os três soldados pára-quedistas trasladados da Guiné por iniciativa dos seus antigos camaradas:

Soldado pára-quedista António Vitoriano



Soldado pára-quedista José Lourenço

Soldado pára-quedista Manuel Peixoto

Que descansem na paz eterna as almas destes bravos!

4 comentários:

fmoreira disse...

Um dia li algo que referia que a história repete-se, não da mesma forma mas com outras nuances.
Creio que foi no livro "Os Centuriões" ou teria sido em "Os Pretorianos" de Jean Laterguy que ele terminava o mesmo dizendo algo parecido com, "ai de Roma quando as Legiões se levantarem". Para que esse dia chegue, não se pode esquecer, não se pode calar, há que continuar e muito importante não têm de ser os que estudaram estes temas nas carteiras de escola a escrever sobre eles, são vocês os que os viveram, os que os sentiram que têm de contar como foi, "lá longe onde o sol castiga mais..." Como dizia a canção.

José M Francês disse...

A este artigo ,prefiro chamar de singela homenagem a todos, mesmo todos os Camaradas das diversas patentes, idades e armas, que tombaram para sempre ,a todos os que foram feridos e continuam a carregar as "medalhas" que o país lhes deu , a todos os que fruto das adversidades crueis de uma guerra inutil, estão, hoje ainda marcados pelo que se chama de stress de guerra e a que , ninguém , neste canto plantado à beira mar, decide de uma vez por todas, e de uma forma verdadeira prestar a homenagem que lhes é devida.
Para mim nada mais reclamo do que JUSTIÇA PARA OS MEUS CAMARADAS !
Sofro e choro sempre que assisto às homenagens que outras terras prestam aos seus.
Não que uma parada, manifestação ou qualquer outro acontecimento do género venha minorar a dor dos Pais e Familiares de todos eles, mas pelo menos veriam que os SEUS não foram esquecidos e eram reconhecidos pelo País que lhes roubou a juventude.
Somos,infelizmente um Povo e País que esquece facilmente, um povo, onde os que são mais responsáveis, se colocam regularmente de lado a
"ver quem passa e no que dá " !
Por vezes, o meu sentimento Patriótico , e que na altura me levou a aceitar o destino, não saindo do País , se sente ferido de morte.
Não da morte que nos era trazida pela bala do outro lado da barricada, mas pela que nos é dada no dia a dia da nossa vida, quando sentimos que nada somos para além de contribuinte pagante aos olhos da minha Nação !
Ao ler passagens do livro " Os Cavaleiros do Maiombe " recordei alguns dos momentos mais dolorosos da minha vida militar, quando no Hospital de Cabinda assisti à chegada de Camaradas trazidos pelos heli.
Tenho um familiar que carrega no corpo ainda hoje o que resta das balas que o atravessaram. Por diversas vezes falei com ele sobre a "sorte " que teve... mas que sorte, meu Deus ??
Quem pode ter "sorte" ficar da forma como ficou e esquecido numa pequena pensão de guerra ?
Saibamos ser dignos dos nossos HEROIS !
Saibamos ser dignos de podermos dizer que somos um POVO que não esquece e sabe reconhecer.

José M Francês disse...

Acredita que há imenso tempo pensava escrever algo sobre o assunto,para o Blogue.
Infelizmente ando nesta vida a adiar projectos todos os dias…
O que hoje publicas apenas me veio fazer abrir em desabafo algo que sinto muito duramente no meu coração.
Que se fodam os valores de acréscimo nas reformas... 130 euros ou qualquer coisa parecida por ano é fazer pouco!
Fazer pouco dos que infelizmente , (não tu nem eu, nem os nossos, felizmente ) sofreram e sofrem na pele.
Sabes que sou um tipo que bendiz do 25ABRIL74!
Sabes o que e de que forma me posiciono politicamente, apartidariamente, mas às vezes dou comigo a pensar que o Salazar,
e afins, ao menos fingiam que se importavam, e no dez de Junho faziam aquela farsa das medalhas e honrarias…
Nós, nem isso sabemos e somos capazes de fazer !
É muito triste e enoja-me.
Abraço-te com muita amizade

Carlos Carneiro disse...

Agradeço seu end. blog.
Muito bom.
Sente-se o cheiro da amizade, camaradagem e principalmente do alto teor patriótico, não existente hoje em dia. Apesar de não ter sido da vossa companhia, como aliás já o informei, sinto prazer e orgulho de poder participar com verdadeiros portugueses e falo verdadeiros porque deram o sangue e a vida, a juventude, os sonhos pela pátria. Hoje vemos os terroristas de ontem serem heróis e governantes, assim como os vendilhões e os fujões daquela época. Senti vergonha e simultaneamente orgulho pelos valores que defendemos, ao ver as imagens no Canadá, às homenagens póstumas a vossos camaradas. Hoje é sabido que os ex-combatentes são incômodos à sociedade pelas lembranças de um passado que envergonha aqueles que não participaram. VALEU MESMO LUIS VÁ EM FRENTE, NÃO DEIXE APAGAR ESSA CHAMA.
Um abraço

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta